Às vezes tenho medo!
Tenho medo da fé vaidosa que se ausenta da presença de Deus e que confia nas coisas, nos gurus, nos falsos profetas. Tenho medo da fé vaidosa que domina pelo medo e com isso não acontece libertação pelo amor. Tenho medo da fé vaidosa e seca que olha o outro como um amontoado de pecado e que julgando massacra, humilha, separa e mata...
Tenho medo da fé vaidosa de que só meu “gueto”, só meu “grupinho perfeito” será salvo e os demais, que dele não participam, estarão destinados ao fogo do inferno. Tenho medo da fé vaidosa que deixa de ser simples para que as coisas brilhem mais que o Evangelho pobre e humilde nascido na gruta de Belém, que sofreu e na cruz morreu como um criminoso sem ter cometido crime algum, condenado pela fé vaidosa.
Tenho medo da fé vaidosa de documentos e mais documentos entorpecentes que no final de toda história não conseguem alcançar seu objetivo e quando conseguem tornam-se mais caros, sérios e mais importantes que as Sagradas Escrituras.
Tenho medo da vaidosa fé das franjas, da vaidosa fé das faixas na testa, dos vazios e longínquos discursos da realidade humana.
A quem seguimos? A quem servimos? De quem nos tornamos discípulos? Não seguimos padres, bispos, diáconos. Não servimos a redes tv. Não somos discípulos de doutrinas e ensinamos escravizadores e pesados que nascem aqui e ali como formas de fé alienante e que pouco fala e provoca o exercício da misericórdia, da esperança, do serviço e do perdão!
Seguimos Jesus Cristo!
Ah tenho medo...
De ter recebido autoridade eclesial, ter ensinado conforme a fé, indicado o caminho e ter vivido o contrário do que fora ensinado. Tenho medo da vaidosa fé de ter amarrado pesados fardos e ter colocado nos ombros dos outros uma âncora que afunda todo barco, mas não ter tido misericórdia e empatia com o irmão e irmã que apenas não queria ser desprezado.
Tenho medo da vaidosa fé que me permitira orar, mas que tal oração não me levasse ao silêncio, e do silêncio ao Senhor que está no irmão que sofre, ao oprimido e ao cativo, tornando-me um alguém que vê, mas não enxerga.
Tenho medo da vaidosa fé que poderia me fazer lembrar, citar, proclamar trechos da Escritura, muito cheio da vaidosa sabedoria, mas não os ter vivido.
Tenho medo da vaidosa fé que nos levou a lugares de honra nos banquetes e aos primeiros lugares nas igrejas, e que possa ter nos colocado tão distante da vida que me pedia apenas um abraço e um ouvido acolhedor.
Tenho medo da vaidosa fé que nos faria sermos cumprimentados nas praças públicas e de sermos chamados de Mestre, e que nos levaria a negar, pela vaidade, o socorro aos que estão à margem da sociedade e da vida, sem emprego, sem o que comer...
Tenho medo da vaidosa fé que não me permite ser guiado pelo Cristo que está no meio de nós, mas que me permite ser guiado por minhas próprias convicções muito certas e altaneiras: guia cego de mim mesmo.
Tenho medo da vaidosa fé que não me permitiu ser filho (a) de Deus, verdadeiramente, enxergando no outro meu querido (a) irmão (ã) e que por causa disso me afastou tanto da casa do Pai, de seu coração terníssimo, e com isso não O servi na lágrima do outro, no prato vazio do faminto, no abraço ao desesperançado, na busca do bem comum, na conservação e no respeito à vida do outro, quando fugi do compromisso e da vocação de lavador de pés, para ser príncipe de altares...
Ensina-nos Senhor a sermos humildes no Filho que serviu, para sermos, de fato, Vossos filhos e filhas.
Amém!
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial – Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Mariana/MG