O Antigo deu ao Novo o seu lugar. Assim cantamos no Tantum Ergo (Tão Sublime). Mas como entender esse “deu o seu lugar”?
No ambiente bíblico não significa que um anulou o outro, mas em Jesus Cristo toda plenitude do Antigo é revelada e compreendida a partir do evento Encarnação do Verbo e todo mistério que ali está contido até a Ressurreição do Senhor. É preciso que essa informação esteja clara em nossos corações para seguirmos adiante...
Quando contemplamos os ambientes encontrados na Liturgia da Palavra, ou seja, o da Sarça ardente no Horeb e do Senhor que dialoga com algumas pessoas religiosas de seu tempo sobre os incidentes ocorridos, provavelmente, em Jerusalém, e a parábola da figueira, podemos ver aí embutidos a grande esperança do povo.
No Horeb, Deus comunica a Moisés que ouviu o clamor e viu o sofrimento de seu povo, visita-o e encarrega Moisés da missão de retirar o povo da escravidão. Já no evangelho, o próprio Deus, em Jesus Cristo, está no meio de seu povo. Essa presença do Filho do Deus Vivo no meio do povo renova a esperança na conversão de seus corações, mesmo ainda não percebendo os frutos de suas vidas.
Que quero dizer?
Muito simples, no primeiro momento Moisés retira o povo do Egito e por causa de sua índole de cerviz dura sofrem no deserto a tal ponto de terem saudade da escravidão e de servirem outros deuses, fugindo da presença de Deus, mesmo assim o Senhor permanece em seu meio na esperança de sua conversão, alimentando-os e curando-os após as tormentas.
Deus também é esperança, quer que o povo de fato volte-se para ELE com todo seu coração e experimente a vida nova numa terra onde corre leite e mel.
Com Jesus a proposta do Reino já é uma realidade, o lugar próprio da salvação do povo, mas à semelhança do povo que caminha com Moisés, o povo ao lado do Senhor ainda se mantém duro em seu coração, não vê a novidade do Reino em Jesus Cristo, observando apenas a vida do outro como um equívoco e aqueles que morreram seriam, portanto, mais pecadores que os que estariam vivos porque esses não foram atingidos por semelhante infortúnio.
Jesus levanta a crítica: pensais que eles foram mais pecadores? De fato, se não houver a produção de um fruto bom em nossas vidas o resultado final não será bom.
Para Santo Agostinho, a árvore de figo é a raça humana que deve produzir bons frutos. Para Teofilacto, a figueira é cada um de nós. O certo é que, seja a humanidade que não produz frutos, seja cada um de nós, seremos cortados por estarmos inutilizando a vida.
É preciso um movimento de conversão para nos ajustarmos à vontade de Deus que é Amor! O amor é o melhor fruto da figueira que somos, seja enquanto humanidade, seja em nossa pessoalidade. Produzir frutos de amor e justiça significa a verdadeira necessidade de se deixar cuidar pelo agricultor que nos alimenta com o adubo da fé, isto é, Palavra e Eucaristia.
Sigamos firmes, videiras que somos!
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial – Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Mariana/MG