SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Por Amor...
Deus nosso Pai ao criar-nos à sua imagem e semelhança nos torna, desde já, participantes de seu desejo Eterno de sermos Nele o diferencial da criação e participantes de Sua vida Divina. Seu Amor se manifesta como participação em Seu querer, ou seja, o querer de Deus é refletido em cada um de nós e transborda no seio da humanidade.
Deus se doa em Amor a todos nós já no ato da Criação!
Mas, por permitirmos nos tornar criaturas de difícil trato, fomos nos afastando, de desobediência em desobediência, dessa vontade de Amor e nos afundamos na mais triste solidão, a solidão do egoísmo, da autossufiência. Ficamos tal qual criança emburrada e malcriada que se julga independente de seu pai e, de tombo em tombo, vai se ferindo vida afora.
Esse estado de “independência”, cuja frieza se faz instalar na alma humana, mitiga nossa existência ao mínimo de nossa real capacidade de ser no Amor. Limitamos nossa existência a uma enfadada produção, de execução, fazeres, em busca de sucesso, poder, dinheiro e suas frivolidades.
Contudo, Ele não se cansa, Ele não desiste, porque o Amor verdadeiro não desiste, antes, se antecipa em cuidado e misericórdia e, na esperança, tem o desejo de continuar nos atraindo ao Seu coração de Pai.
Então, o Filho primogênito adentra na história e Deus entretém com a realidade humana na pessoalidade e na comunidade. Jesus, Deus e Homem Verdadeiro, nos fala da vontade do Pai, comunica seu Amor libertador, insiste em dizer-nos de nossa condição de Filhos e, portanto, irmãos uns dos outros, homens e mulheres chamados ao cuidado pelo amor doação que sempre acolhe.
No auge de tudo, amando-nos ao extremo Ele se entrega em sacrifício único e perfeito nos resgatando da morte. Entretanto, antes de seu sacrifício pleno, a cruz, celebrou a Páscoa com seus discípulos, reunindo todos à sua volta e indo do lavar os pés ao tornar-se alimento, mostrou-nos o que faz o amor eucarístico, o amor da ação de graças: cura, limpa, celebra e vibra...
Assim nos ensina o Papa Bento XVI:
No sacramento da Eucaristia, Jesus mostra-nos de modo particular a verdade do amor, que é a própria essência de Deus. Esta é a verdade evangélica que interessa a todo o homem e ao homem todo. Por isso a Igreja, que encontra na Eucaristia o seu centro vital, esforça-se constantemente por anunciar a todos, em tempo propício e fora dele (opportune, importune: cf. 2 Tm 4, 2), que Deus é amor.(4) Exatamente porque Cristo Se fez alimento de Verdade para nós, a Igreja dirige-se ao homem convidando-o a acolher livremente o dom de Deus (SCt,5).
Plenamente consciente de seu amor-doação espera da comunidade eucarística a adequação da vida pessoal e plural ao mistério que Ele comunica através de seu corpo partido e de seu sangue derramado.
Na Eucaristia, Jesus não dá « alguma coisa », mas dá-Se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Deste modo dá a totalidade da sua própria vida, manifestando a fonte originária deste amor: Ele é o Filho eterno que o Pai entregou por nós. (SCt,8)
Entregando a totalidade de sua vida, quer dizer que entrega igualmente a totalidade de sua missão da qual participamos integralmente pelo mistério celebrado na partilha e no Amor nos tornando pela Comunhão neste dom o Cristo mesmo no meio da comunidade através de nosso contínuo “Amém”.
Cristo Senhor quis confiar-nos o seu corpo e o seu sangue, que derramou por nós para a remissão dos pecados. Se os recebestes bem, vós mesmos sois Aquele que recebestes ».(110) Assim, « tornamo-nos não apenas cristãos, mas o próprio Cristo ».(111) Nisto podemos contemplar a ação misteriosa de Deus, que inclui a unidade profunda entre nós e o Senhor Jesus (...) (SCt,25)
Essa comunhão profunda nos chama a entendermos que ao celebrarmos a Eucaristia nos fazemos participantes da fidelidade do Senhor e sua presença contínua no meio da humanidade.
Significa muito a solenidade de hoje, significa não somente a profissão de fé nesse Sacramento Altíssimo mas ainda mais, significa dizer, dia e noite, que só podemos crer verdadeiramente com a vida e história partilhada, comungada e transformada.
Celebrar a festa do Corpo e Sangue do Cristo é celebrar a festa do compromisso, dai-lhes vós mesmos de comer”, que em suma é a atração para todos nós do compromisso em sermos também alimento e resgate no meio da sociedade. É dizermos que Deus que nos criou à sua imagem e semelhança, e que entregou-nos Seu Filho amado para participarmos de sua missão, aguarda nosso retorno à essência de filhos no Filho pelo compromisso com a transformação da vida no Amor operante.
Por Amor e no Amor Eucarístico, no Amor da Ação de Graças possamos nos mover transformando o possível pouco (cinco pães e dois peixes) no extraordinário de uma vida renovada no Amor Acolhimento, Serviço e Doação.
Paz e bênçãos!
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial da Paróquia Sagrado Coração de Jesus.