Hoje, dia em que se comemora, dentro da história, o dia da independência do Brasil de Portugal, o país de ponta a ponta, exibirá suas manifestações políticas civis e militares tão pífias e ridículas que me sinto no direito de dizer: vergonhosas!
O Evangelho de hoje fala dos pobres, daqueles que têm fome, dos que choram. Quando olhamos o país podemos dizer que temos realmente motivo para comemorar a independência quando somos uma nação cujos pobres vasculham o lixo para procurar alimentos, quando ainda há milhares de famílias morando nas ruas, pais e mães que estão aniquilados pela falta de emprego ou pelo subemprego. Quando, à expressão do Padre Júlio Lancelotti, os carros fortes, os bancos, são símbolo da opulência e nossas ambulâncias, postos de saúde e hospitais públicos símbolos de uma miséria sem fim?
Podemos falar em independência quando ainda somos o país do choro pelo preconceito, pelas mortes entre nossos irmãos e irmãs jovens presos nos vícios, na dificuldade em encontrar o primeiro emprego digno. Em nossos irmãos e irmãs pretos vítimas constantes de um racismo que cada vez mais se reestrutura e os coloca em situação de vulnerabilidade? Onde nossos irmãos e irmãs das comunidades lgbtqia+ estão sempre e cada vez mais na mira da violência e da morte. Onde os membros das comunidades ribeirinhas, as comunidades quilombolas, indígenas, são desrespeitados em essência. Onde o choro atinge violentamente os irmãos e irmãs das religiões de matriz africana tendo seus terreiros e barracões destruídos pela intolerância religiosa? O país do choro e dos que têm fome onde os ricos são cada vez mais os “super ricos” e os pobres cada vez mais miseráveis?
Não me venham exibir ternos e gravatas!
Não exibam tiros e canhões!
Não coloquem nossas crianças para “marchar” quando podem estar com fome!
Desçam dos palanques, entrem nas realidades de miséria de nosso país, curem as feridas, levantem os pobres, enxuguem as lágrimas, devolvam empregos, construam escolas referenciais e não presídios, plantem árvores e não aumentem as cavas de mineração.
Sirvam os militares não somente à segurança da nação, mas ao exemplo de cuidado com os miseráveis.
Sirvam os políticos ao seu propósito constitucional: promovam leis favoráveis aos pobres e aos que choram, taxem as grandes fortunas, não ofereçam auxílios desfavoráveis, mas ofereçam a dignidade do bom emprego, do salário mínimo digno e justo. Executem seus ofícios oferecendo possibilidade da moradia digna, da educação de qualidade, deem aos nossos professores salários reais e promovam o incentivo em todos os campos sociais e não somente capitais.
Se creem em independência devolvam-na à nação... porque não a reconheceremos se for vista apenas da ótica dos “vencedores”, dos ricos.
Se cremos que ela ainda não ocorreu... lutemos para que de fato aconteça.
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial