Tudo tem seu tempo certo, não é mesmo? O autor do livro do Eclesiastes sabia bem dessas coisas. Nós aprendemos também que a virtude do tempo produz sabedoria para aqueles que têm o coração aberto.
Existe também o tempo do discípulo. Esse tempo é o tempo de transformação. É como diz Paulo apóstolo, o tempo do discípulo é o tempo em que aprendemos “que já não seremos nós que vivemos, mas o Cristo que vive em nós!”.
O bom discípulo é fruto do tempo em proximidade com o Senhor semeador. Ele deve aprender estando perto do Senhor e ouvindo suas Palavras com docilidade. Ali, enquanto discípulo, amar será a regra e como dizia Madre Teresa de Calcutá, o amor para ser verdadeiro tem que doer... Por isso, o Amado foi crucificado: tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os ao extremo!
Podemos dizer que para se conhecer Jesus devemos ter disposição “discipular”. O discípulo tem que estar perto de Jesus para aprender ouvindo e vendo o que faz o seu Senhor (Ele ama). Aqueles que não são discípulos vaguearão nos umbrais da dúvida. Aqueles que não se dispõem ao discipulado, não sabem quem é Jesus, vivem com dúvidas e acreditam em suas dúvidas, propagam suas dúvidas e agregam a si outros tantos que não querem ser discípulos, não querem ser amigos e amigas de Jesus e optam por ser amigos e amigas da incerteza.
Assim, cabem aos verdadeiros discípulos a beleza pessoal e eclesial de se deixar formar pelo Senhor. Somos sementeiras de Jesus que frutificam vida afora. Será naquela proximidade amiga, que leva certo tempo, que ouviremos do Senhor qual a vontade do Pai. É o ato de ouvir bem, aprender amando e cuidando para não se enquadrar no grupo daqueles que não sabem quem é Jesus.
Quando o discípulo se encontra com Jesus, Ele mesmo nos revelará seu itinerário: sofrer, ser rejeitado, morrer, mas ressuscitar no amor do Pai.
No tempo em que vivemos, de discípulos do celular, das redes sociais, dos falsos e medíocres políticos, de um povo que endeusa as coisas, os bens, “os mitos”, não há mais espaço para se conhecer Jesus e quando o querem conhecer transformam Jesus em possibilidade de riqueza, de guerra, de ódio, dominação, de preconceitos dirigidos aos irmãos e irmãs em nome de Deus.
Esses não são discípulos, acreditam conhecer, mas não conhecem. A eles também cabe a pergunta de Jesus: e vós quem dizeis que Eu sou?
Jesus ainda sofre em seu coração por tantas tristezas em nosso tempo. As guerras, as mortes, a pobreza, a fome, as diversas condições de prejuízo social, a espoliação do trabalhador, os preconceitos diversos.
Quando vivemos em um tempo onde cada vez mais somos menos discípulos de Jesus, Ele continuará sendo rejeitado. Ele vira motivo de piada, de críticas, de desdém, às vezes, porque nós que dizemos conhecer Jesus, vivemos como se não O conhecêssemos. Muito rápidos em condenar, lentos em perdoar. Rápidos no ódio e nas divisões e lentos na produção da paz. Rápidos na ganância, lentos na partilha...
Ele morre nas filas dos hospitais, nas prisões, nas ruas e favelas, nas diversas cracolândias espalhadas pelo Brasil. Morre naqueles que suicidaram pela falta de carinho, pelo desprezo. Morre nas crianças que moram nas ruas e que, sem perspectivas, cedem suas vidas ao capricho dos sinais de morte.
Os discípulos e discípulas que vivem aprendendo sabem que devem lutar, sabem que devem se rebelar contra todos os sinais de morte que o mundo produz em nosso tempo.
Sejamos os anárquicos da fé que constroem uma nova civilização no Amor do Cristo Mestre, Semeador. Sejamos os discípulos que dizem dia a dia que conhecem o Senhor e que vivem como discípulos libertando o mundo de seus cárceres existenciais. Seremos rejeitados, mas se o formos porque aprendemos a ser discípulos do Amor e no Amor, a vida sempre nos encontrará no abraço que dermos, nos sorrisos que ganhamos dos desvalidos que receberão de nós o pálio de uma nova ordem eclesial e social.
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial