Caros amigos e amigas,
Chegamos ao último domingo do mês de setembro. O tempo está voando, passando por entre nossos dedos. Daqui a pouco será, com a graça de Deus,Natal do Senhor e estaremos celebrando os bons propósitos de um novo ano civil.
Esse tempo cronológico, que passa nos ponteiros de nossos relógios atarraxados em nossos braços firma conosco um contrato tácito para o qual devemos estar muito atentos!
É justamente nesse tempo que estabelecemos nossa marca, deixamos claro nosso caráter e a que motivo fomos plantados no chão neste “mundão de meu Deus”!
Será que já pensamos nisso, com seriedade?
O Evangelho de hoje, embora com essa visão trágica, fala justamente desse tempo vivido por nós e como o vivemos.
A cena proposta pela comunidade Lucana apresenta duas cenas estabelecidas em tempos diferentes. Uma boa parte de teólogos dizem que não seria intenção de Lucas falar especificamente sobre o que é o céu ou inferno, muito menos entrar na questão escatológica.
Lado outro, Lucas apresenta para a comunidade a disposição do viver humano.
Na primeira cena um rico, sem nome, mas com as coisas ao seu lado. Estar sem nome pode significar justamente não ter um norte, não saber seu propósito. Ser um anônimo, um sem nome significa ser aquele que ligou a vida no automático e a utiliza somente ao prazer das suas poses. Não se preocupa com o tempo vivido ao lado das pessoas. Há aí o esquecimento de uma vida ajustada a Deus sem a prática do Amor doação, do Amor acolhedor. Uma vivência vazia que se limitou em ter os reinos e a bajulação existencial.
Há Lázaro. Um pobre. Ele tem nome. Possui identidade. O nome Lázaro quer dizer “Deus ajuda”. Mas como Deus ajudou o pobre, chagado, ferido, com fome? Lembremos das bem-aventuranças?
Antes de mais nada é preciso lembrar que o povo se aglomera perto de Jesus para ouvir e ser curado de suas doenças temporais, espirituais e sociais. Então Jesus diz, na ponta de tudo: “Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o Reino dos Céus! Bem-aventurados vós que tendes fome porque serão saciados!” (Lc 6, 18ss).
Por que trazermos as Bem-aventuranças para hoje? Não precisamos fazer muita força intelectual. Basta olharmos a segunda cena do Evangelho de hoje, Deus ajudou Lázaro e ele está no Reino dos Céus e está saciado.
Portanto, é bom trazermos à memória que podemos de fato ganhar o mundo, possuirmos as coisas, sermos ricos aos olhos das pessoas e dos bancos, mas se não tivermos um coração aberto ao amor, à prática da caridade, da misericórdia e da justiça, se não aprendermos a olhar o pobre, aqueles que estão à margem, sedentos e famintos, seremos como o homem rico, pessoas ligadas ao automático da existência e fadados a sermos apenas “sepultados”.
Podemos ser hoje, se quisermos, os homens e as mulheres da diferença social. Podemos ser hoje e sempre os homens e as mulheres que convidam justamente os pobres e necessitados para nosso banquete. Podemos e devemos ser a diferença no mundo, fazendo a reta opção por fazer com que todos tenham, na justa repartição dos bens e dos frutos da terra, uma vida digna.
Portanto, Deus sempre ajuda as pessoas, por nossa voz, nossas mãos operantes, nosso olhar caridoso, por vida empática, onde trazemos para nossas vidas a melhor expectativa de vida para as pessoas. Não se trata de um mínimo existencial, mas de uma dignidade existencial, que não pede o mínimo para pobre, mas o que é justo para todos e todas.
O tempo está passando...
Como temos vivido? Sem nomes? Sem destino? Sem propósitos? Ligados no automático?
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial