No livro do Gênesis, vemos que Deus concede ao homem, superior aos animais, o poder de lhes dar nomes e de lhes destinar um lugar no âmbito dos seus domínios. Mas não é no âmbito do domínio que o homem encontra a ajuda adequada, mas no diálogo com o “tu semelhante”, não dominado, mas igual, numa relação que se constrói no amor. É assim que Deus constitui a mulher. O homem só, é uma criatura incompleta e para ter uma história ele precisa de uma companheira. A mulher é “uma auxiliar semelhante a ele” (v. 18.20) que o arranca da solidão, da autossuficiência. É verdade, esta relação tem também os seus conflitos, a história nos mostra, mas ninguém pode negar que o encontro entre um homem e uma mulher tem sempre algo de fascinante. Ao criar o homem macho e fêmea, Deus considerou que tudo “era muito bom” (Gn 1,31).
As diferenças entre o homem e a mulher têm em vista a sua complementariedade e a vocação ao amor na unidade. O relato bíblico insiste na fundamental igualdade e na profunda unidade entre o homem e a mulher.
No Evangelho, depois de ter curado muitos doentes e discutido com os fariseus em Genesaré, Jesus prossegue a sua viagem por Tiro, Sídon e a Decápole, terras pagãs. Ali também realiza milagres como hoje ouvimos a respeito da cura da filha da mulher cananeia. No diálogo com a mulher emerge a tensão entre o papel proeminente de Israel e o universalismo da salvação, dirigida a todos. Não só os “filhos”, os judeus, mas também os “cães”, os pagãos, segundo a metáfora, são chamados à salvação. A única condição é escutar a Boa Nova e acolher Jesus como o seu Senhor.
Vivo, em minha relação conjugal, enquanto família, o projeto de Deus de complementariedade e unidade no amor? Como trato as mulheres no meu círculo de convivência familiar, amiga, na comunidade e nos trabalhos, com respeito e igualdade ou com dominação e violência? Tenho escutado a Palavra de Deus e procuro colocá-la em prática? Reconheço que o amor salvífico de Deus se dirige a todos?
Senhor, Tu afirmaste, referindo-te ao homem: “vou lhe dar uma auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,18). Quiseste assim mostrar que as coisas do mundo precisam da mulher e do homem. Ajuda os homens a vencerem a autossuficiência e o orgulho masculino que os impede de olhar a mulher como igual em dignidade e como companheira no caminho para Ti. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago