Celebramos hoje os Santos Cirilo e Metódio. Eles nasceram em Salônica, na primeira metade do século IX e se tornaram apóstolos dos povos eslavos, na Morávia, atuais repúblicas Checa e Eslovaca, e na Polônia, atual Croácia. Com eles, somos chamados a assumir o ardor missionário, levando a Palavra de Deus a todos.
Na primeira leitura, do livro do Gênesis, vemos como o pecado começa a alastrar no mundo e parece comprometer a bondade da criação realizada por Deus. O autor bíblico revela que Deus chega a uma dolorosa conclusão: «arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra» (v. 6). Na verdade, Ele não se arrepende da criação em si mesma, mas do pecado dos homens. O "arrependimento" de Deus corresponde à atitude que os homens deveriam manifestar depois dos seus pecados, mas não manifestam. Esse "arrependimento" leva-o a pensar no único remédio possível para tão grave situação: destruir para recriar, começar tudo de novo. Partindo de paralelos literários na antiga Mesopotâmia, o autor bíblico reelabora e reconta sobre o “dilúvio”, utilizando-o como única solução para a maldade do homem. Aqui não se trata de um castigo indiscriminado de inocentes e culpados. A intenção divina é, sobretudo, de recriar o mundo, de renovar a face da terra. Os que sobrevivem representam toda a humanidade salva das águas, os pais da nova família humana. Noé é como que um novo Adão, com quem a vida humana recomeça. Na tradição cristã, Noé torna-se figura de Jesus; o dilúvio, esboço do batismo que nos salva; a arca, onde sobrevivem homens e animais, imagem da "Igreja". Vemos aqui que a graça se sobrepõe ao juízo; a bênção suplanta a maldição.
No Evangelho, Jesus censura os seus discípulos: “Tendes o vosso coração endurecido?” (v. 17). O tema do coração endurecido aparece a propósito da compreensão e da aceitação do mistério do Reino proposto em parábolas (Mc 4, 10-12; Mt 13, 10-14; Lc 8, 9s.; cf. Jo 12, 37-41). Era necessário não se deixar contaminar “com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes” (v. 15), isto é, com o orgulho e com a soberba dos fariseus e de Herodes. Os fariseus, provavelmente, esperavam um Messias triunfador que, com prodígios grandiosos, submetesse o mundo ao poder de Israel. Mas não era essa a lógica de Jesus. A salvação que Ele nos oferece, fiel e obediente à missão que o Pai lhe confiou, será realizada na partilha que multiplica o pão, e na carne entregue que se torna fonte de vida eterna, isto é, na sua passagem pela morte de cruz. Será também esse o caminho dos discípulos e da Igreja, se quiserem ser fiéis aos ensinamentos e ao exemplo de Jesus. Ser “corpo” entregue e “sangue” derramado.
Como tenho vivido a vida nova que recebi no meu batismo? Acredito no amor de Deus que renova a face do mundo e, sobretudo, os corações humanos? Meu coração é duro ou dócil aos ensinamentos da fé? No seguimento de Jesus, sou “corpo” entregue e “sangue” derramado, colocando dons e bens a serviço?
Senhor Jesus, ao contemplar o teu Coração, manso e humilde, traspassado na cruz, compreendo os desígnios do Pai que se compraz em fazer grandes coisas, usando instrumentos simples e, aos olhos do mundo, fracos. É o que descubro na tua Igreja, ao longo de dois mil anos de história. Faz de mim, teu instrumento a serviço da vida e da esperança; concede-me a graça de um coração bom, manso e misericordioso, semelhante ao teu Coração. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago