Início da Campanha da Fraternidade 2023: Fraternidade e Fome
"Dai-lhes vós mesmos de comer!" (Mt 14,16)
Abrimos, com a quarta-feira de cinzas, o tempo quaresmal. A Liturgia da Palavra nos dá, hoje, a orientação correta para vivermos frutuosamente este tempo litúrgico, tempo favorável de graça e salvação. Penitência e arrependimento não são caminho de tristeza, de depressão, mas caminho de luz e de alegria, porque se nos levam a reconhecer a nossa verdade de pecadores, também nos abrem ao amor e à misericórdia de Deus.
Na Igreja do Brasil, vivenciamos, durante a Quaresma, a Campanha da Fraternidade que, nesse ano, recorda o flagelo da fome. “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16) é o mandato de Jesus. Somos instrumentos d’Ele para que não faltem às mesas o pão material e o pão espiritual.
Na primeira leitura, o profeta Joel exorta o povo, que passa por uma grave carestia provocada por uma invasão de gafanhotos (1, 2-2, 10), à oração e à conversão. Ele anuncia a proximidade do “Dia do Senhor” e convida o povo ao jejum, à súplica e à penitência (2, 12.15-17). "Convertei-vos", grita o profeta. O povo que virara as costas a Deus devia voltar novamente o coração para Ele e retomar o culto no templo. Um culto autêntico que manifestasse a conversão interior. O povo pode voltar novamente para Deus, porque Ele é misericordioso (v. 13), e também pode mudar de ideia e voltar atrás (v. 14). Exortação para vivermos bem a quaresma: voltar ao Senhor, de todo coração, pois Ele é bom e misericordioso.
Na segunda carta aos Coríntios, Paulo faz esse apelo: “Reconciliai-vos com Deus”. A reconciliação é possível, porque essa é a vontade do Pai, manifestada na obra redentora do Filho e no poder do Espírito que apoia o serviço dos apóstolos. Cristo carregou sobre si o pecado do mundo e expiou-o na sua própria carne. Assim, podemos apropriar-nos da justiça divina e da santidade de vida. Agora, é o tempo favorável para aproveitar essa graça: deixemo-nos reconciliar com Deus.
No Evangelho, Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras que eles: “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles”. Agora aplica esse princípio a algumas práticas religiosas do seu tempo: a esmola, o jejum e a oração. Há que estar atentos às motivações que nos levam a dar esmola, a orar, a jejuar, porque o Pai vê o que está oculto, os sentimentos profundos do coração. Se buscamos o aplauso dos homens, a vanglória, Deus nada tem para nos dar. Mas se buscamos a relação íntima e pessoal com Ele, a comunhão com Ele, seremos recompensados. Façamos nesta Quaresma as obras de penitência que pudermos,mas vamos fazê-las na intimidade e na presença do Senhor. Procuremos o Senhor na oração, na Eucaristia, na comunidade, no serviço ao próximo para que a ninguém falte o necessário para a sua vida e salvação. Com esse espírito, recebamos as cinzas.
Senhor, meu Deus, mais uma vez, me ofereces a graça da Quaresma. Ajuda-me a viver esse tempo no segredo onde me vês, me amas e me esperas. Sei que as coisas exteriores têm a sua importância, mas quero vivê-Ias na tua presença. Quero fazer o que puder na oração, na mortificação, na caridade fraterna; mas quero fazê-lo na humildade e na sinceridade diante de Ti. Infunde em mim o teu Espírito Santo. Que ele me conduza e guie pelo deserto da penitência, durante esta Quaresma, preparando-me para as alegrias pascais. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago