Sempre pergunto a mim mesmo que é “oração”? De fato, inúmeros místicos da Igreja já disseram o que é a oração. Bebemos em várias referências espirituais e acabamos por, quem sabe, transformar nossa vida de oração a partir de uma familiaridade espiritual específica, com a qual nos identificamos e fazemos aí nosso itinerário e como diria o monge Anselm Grün: partimos de um ideal bem definido a um fim que qualquer sujeito deveria alcançar mediante a oração e as práticas espirituais. Certo, mas ainda assim, o que é uma oração, o que é orar? O que é rezar?
Um dos exercícios espirituais que a quaresma nos propõe é justamente a dimensão da oração e devemos, sinceramente, estar atentos a essa dimensão. Conhecer e viver a oração é sempre contemplar o caminho e vislumbrar o destino.
Arrisco, aqui, algumas palavras, para começarmos a compreender o que é oração a partir da conduta da rainha Esther. Quando a observamos percebemos duas disposições importantes para que saibamos orar: reconhecer que Deus é nosso único Senhor e Esperança e permitir-se confiar e dizer-Lhe sobre o que somos e necessitamos na existência.
Pode parecer que estamos “negociando” com Deus para que nos ajude em nossas mazelas, em nossas fugas teimosas de casa, mas o que faz um filho ou uma filha que confia em seu pai ou mãe senão aspirar àquela altura humana que nutre, protege e acalenta amando? Que faz um bebê quando cai e chora, senão estender confiante seus bracinhos frágeis para o colo heróico de seus pais e naquele abraço ser curado de uma dor imensa e desconhecida apenas com um beijo e um “pronto, já sarou!”?
Esther, no silêncio, reconhece a majestade de Deus e prostrada sabe que seu refúgio é o Senhor e dizendo sobre suas necessidades admite que correu quando o Pai disse para não correr e por isso caiu e se feriu. Ela reconhece que subiu naquela árvore alta para roubar algum fruto quando o Pai lhe havia pedido para não subir, e quando quis descer feriu-se e expôs-se ao perigo. Esther é a filha que está no chão e estende seus bracinhos para Deus-Pai e confiante chora desejando o colo que cura e livra do inimigo que dói, ela quer transformar sua dor em alegria no abraço do Pai e ela diz, ela pede, roga, ora...
A oração de Esther é tão bonita que diz com o salmista: naquele dia em que gritei vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma! Deus ouve Esther e cura seu coração e o coração de todo seu povo.
É justamente esta disposição que Jesus quer ensinar aos seus discípulos: reconhecimento e confiança. O reconhecimento de Deus é a disposição do “amá-Lo sobre todas as coisas” e transformar nossas vidas num ato contínuo de adoração tendo nossas vidas sempre prostradas diante do Pai que nos olha e nos coloca de pé em sua presença enquanto filhos e filhas com seus bracinhos estendidos. Olhando nos acalenta e ouve-nos sobre o tombo, sobre a queda, sobre a teimosia, sobre tudo quanto nos dispomos a ser longe de seu amor.
É isso que Jesus nos ensina... e confiantes podemos esperar que pedindo ao Pai, Ele e só Ele nos atenderá com um sorriso e um olhar que nos perdoa de tudo. Jesus nos ensina a procurarmos no Senhor Deus, o dom da vida e nós a encontraremos no abraço do Pai. É Jesus quem nos ensina para batermos à porta do amor de Deus e Ele nos abrirá e nos saciará, porque Ele é Pai e Ele nos dará sempre coisas boas, as coisas as quais pedimos e esperamos, porque seu amor nos sustenta.
A oração portanto, é a reta disposição do reconhecer o Pai e amá-Lo tanto, que não haja em nossos corações outra vontade maior que essa e nesse amor mergulhar e dizer, falar e calar... dispormo-nos em diálogo contínuo, iguais pequenas crianças que estendem seus bracinhos pedindo colo que se transforma em esperança benfazeja na prática desse amor Paterno que nos alcançou em Jesus Cristo.
Pe. Jean Lúcio de Souza