Nossas vidas são tão limitadas, efêmeras ao extremo...
Uma simples brisa pode nos levar a uma gripe terrível que nos derrubaria em nossas camas. Um mosquito pode nos matar. Um vírus levou a população mundial ao caos, milhares de brasileiros aos túmulos e outros tantos ao limite de sua saúde e à insegurança vital e existencial. Somos frágeis. Somos vulneráveis. Talvez, no bioma universal somos os menos preparados biologicamente para a sobrevivência. Podemos ter alcançado as virtudes do intelecto, mas mesmo assim, permanecemos à mercê de uma variedade de coisas, fatos e pessoas que podem nos destruir por completo. Resumindo, nossa fragilidade nos levará à morte física.
Disto, ainda podemos ter que enfrentar outros males, que ferem não somente o corpo, mas a alma e o coração. Esses males podem ser o individualismo, egoísmo, indiferença, frieza, tibieza, a soberba. Esses males atingem o coração do homem e da mulher, causam danos para além do físico, causam danos à nossa capacidade de sermos melhores e de fazermos as coisas de um jeito novo, um jeito que agrade a Deus e não aos homens. Uma vida que nos libertasse da mesquinharia e nos abrisse à prática da caridade libertadora. Uma vida onde nossa esperança e confiança fossem depositadas na Palavra Eterna do Pai, Jesus Cristo.
O profeta Jeremias, imbuído do Espírito de Deus, por certo, apresenta a afirmação de que todo homem que confia noutro homem é maldito. Mas que isso poderia significar? Nossa confiança e esperança devem estar depositadas em Deus e Nele devemos nos amparar para que as virtudes da fé, esperança e caridade pulsem através de nossa existência. Deus é e deve permanecer sendo nosso referencial de ética eclesiológica de onde nossa cultura, nosso jeito de ser, possa brotar do coração de Jesus como dom à humanidade, sempre sedenta de misericórdia.
Quando Jesus nos apresenta o drama posto na parábola de hoje, Ele nos oferece um paralelo sem defeitos sobre o que se deve esperar de nossa geração, um verdadeiro ato de escolha: ou seremos os homens e as mulheres que confiando em suas falsas seguranças, nas frágeis amizades negociais e nas fraudes produzidas, viveremos uma inconsistente existência e seremos enterrados, ou então assumimos nossa amizade com o Cristo e dela viveremos tendo diante de nós outros valores para além dos valores que produzem a indiferença e a morte para vivermos com Ele plenamente.
O rico é o protótipo da existência humana descompromissada e frágil que se mata a si e permite que o outro à sua porta morra de fome. Lázaro é o protótipo do zelo e do cuidado, o alvo da atenção de todo homem e mulher que, crendo em Deus e no seu Filho Jesus Cristo, agirão na força do Espírito Santo para afastar do chão deste mundo a fome, a miséria e a desigualdade.
Há poucas semanas recebíamos a triste notícia de algumas empresas brasileiras que tratavam seus empregados, em sua maioria negros e baianos, como o rico desta parábola, levando aqueles “Lázaros” a uma situação análoga à escravidão. Aqueles homens (ricos), bem provável, confiam apenas em si, não conhecem o temor de Deus e por confiarem somente em si e naqueles que lhes são iguais em maldade devem escutar ecoando em seus ouvidos a profecia de Jeremias. Receberam os bens e não foram capazes da misericórdia, não foram capazes da justiça, de dar condições minimamente humanas e éticas para aquelas pessoas, não foram capazes do cuidado.
Ainda ontem celebrávamos o dia internacinal da mulher, quanta discriminação, quanta violência espalhada pelo Brasil sofridas pelas mulheres. Podemos citar a violência econômica tendo seus proventos reduzidos frente ao trabalho do homem ou sofrem a dicrimição doméstica impedidas de trabalhar dependendo economicamente de seus maridos, "aturam" o limite desta violência que as diminui dentro de seus lares. A violência psicológica atormentando a essência de seu ser mulher retirando-lhes ou tolhendo sua liberdade de ser e agir. A violência física é um estigma irreparável, um ato que necessita total ação de reparação nas instâncias cabíveis. As mulheres brasileiras muitas vezes são "Lázaros" de nossa sociedade ainda tão machista e patriarcalizada.
Quando fechamos os olhos a estas e tantas outras necessidades sociais urgentes fomentando a atitude do homem rico em grande escala, nos esquecemos dos Lázaros à nossa porta e vivemos uma vida fantasiosa e sem compromisso com aqueles que deveríamos atender e socorrer em nossa fé.
Que escutemos ao Senhor e vivamos seu mandamento de amor!
Pe. Jean Lúcio de Souza