A Liturgia da Palavra deste 3º Domingo da Quaresma propõe um itinerário reflexivo interessante, nos chama à audiência da Palavra do Senhor, de modo cada vez mais profundo.
Inicialmente queríamos convidar a cada um de vocês à percepção do paralelo entre a água que Moisés, por meio dos prodígios de Deus, oferece ao povo no deserto e a água viva que é o próprio Jesus. Aquela não sacia, esta porém, sacia-nos para a eternidade.
Jesus verdadeiramente é a água viva de onde todos somos chamados a beber e nos saciar. Ele nos sacia na integralidade de nossas vidas, nos leva a sermos saciados no coração e na alma quando nos tornamos os adoradores do Pai em Espírito e verdade.
Não há como negar: os que estão na presença do Senhor em Espírito e Verdade veem-se saciados por servirem ao Senhor encontrando aí suas delícias...
Quero ainda chamar a atenção para dois verbos presentes na Liturgia de hoje, quais sejam: ouvir e crer. Esses dois verbos derradeiros no Evangelho de hoje, são um modo de conclusão interessante.
Domingo passado o Pai, após apresentar Jesus aos discípulos como o Filho amado onde há todo seu bem querer, dirigiu-se aos apóstolos com um pedido – escutai-o – esse pedido não é em vão, se não ouvirem Jesus não serão saciados na Verdade.
O encontro de Jesus com a Samaritana é símbolo dessa luta humana implícita, a luta do aprendizado do saber ouvir, do saber escutar.
Aquele encontro tem um início ríspido e tenso. Entendam, mesmo sendo um encontro difícil na perspectiva desértica da fé, Jesus não desiste da Samaritana, Ele demonstra paciência e deixa explícito seu desejo de Ser conosco, em nossas vidas, compreendendo e transformando nossas histórias, Ele manifesta a face do Deus de Misericórdia.
A Samaritana mostra-se resistente, apresenta certa crítica a Jesus, afinal, Ele é um Judeu se dirigindo sozinho a uma mulher desacompanhada e samaritana. Para ela provavelmente Jesus estaria louco por quebrar tantos protocolos sociais. Critica Jesus por sua “limitação” – nem sequer tens balde! – quase que mandando Jesus “ir catar coquinho nas areias do Egito”. Questiona Jesus sobre sua grandeza, afinal, Jacó havia lhes dado o poço e Jesus até o momento, só “de conversinha”. Meus irmãos e irmãs, será desse momento em diante que o tom da conversa muda de modo drástico.
Jesus mostra a que veio: Ele é, sim, maior que as convenções sociais. Ele é maior que o ódio que separa os povos. Ele é maior que a indiferença e a frieza ante a dificuldade de perdoar. Ele é maior que a desunião, trazendo para Si todos que desejam ser saciados. Sim. Ele é maior que Jacó, que Moisés, Ele é o Deus Encarnado, a Palavra viva do Pai é Ele quem nos sacia para eternidade, manancial de todas as graças.
O encontro de Jesus com a Samaritana devolve aquela mulher ao verdadeiro Deus o que implica em adesão à edificação do Reino de Deus. O encontro com a Samaritana é tão fecundo e perfeito que ao sair para retornar à sua cidade e anunciar seu encontro com Jesus deixa o cântaro para trás. Ela está saciada. Ela esquece para trás todas as suas falsas seguranças e se agarra à esperança que Jesus lha comunica.
O resultado de tudo isso é... todos de sua terra são saciados e dizem em voz alta que não creem mais porque ela disse, mas creem por terem eles mesmos escutado o que Jesus diz. Todos estão saciados. Todos podemos ser saciados. Encontremo-nos verdadeiramente com o Senhor.
Pe. Jean Lúcio de Souza