Quando o mestre da Lei pergunta a Jesus sobre o maior mandamento, introduzindo um diálogo catequético, obtém uma resposta que ecoa para a eternidade na vida de todo homem e de toda mulher: amar a Deus como primeiro princípio e amar a nós mesmos e nossos irmãos e irmãs é suave ao Senhor e agradável a Ele, mais que portentosos sacrifícios.
Existe, portanto, uma sabedoria que edifica nossos caminhos que é ouvir e viver a essência desse mandamento.
Quando Jesus proclama que não veio abolir a lei, mas dar a ela pleno cumprimento, Ele ecoa o desejo do Pai cantado pelo salmista “quem me dera que meu povo me escutasse! Que Israel andasse sempre em meus caminhos, eu lhe daria de comer a flor do trigo, e com o mel que sai da rocha o fartaria”. Quando caminhamos no caminho do Senhor somos saciados como tudo aquilo que é bom e digno, somos saciados bebendo na fonte de água viva, que é Jesus, não podemos esquecer isso. Isto acontece porque o escutamos.
Assim, o sábio volta-se para o Senhor e reflete dia e noite a beleza da Palavra de Deus em sua vida e entende profundamente que não poderá ser plenamente de Deus e por Ele saciado se não amá-Lo, amar a si e amar o irmão.
Temos grande dificuldades com esse amor e deixamos de viver a sabedoria de Deus, saímos de Sua Sacrossanta presença por causa da dureza de nossos corações e apresentamos limites ao amor.
Amar a Deus como princípio único e fundamental de nossas vidas nos insere na dimensão ética de Deus, ou seja, para amá-Lo deve-se amar o que Ele ama e não odiar e destruir.
E o que Ele ama tanto? Senão aquela criatura que é feita à sua imagem e semelhança é elevada no Filho à dignidade de filhos e filhas? Que conduta ética tão importante seria essa, senão de, em todo tempo, em todo lugar e em todas as culturas o respeito pelo outro fosse sublime, o respeito por sua identidade, o respeito à sua integralidade, à sua vida pessoal e comunitária?
Respeitar é símbolo de cuidado, de preservação e proteção.
Amar a si não é egoísmo, não se trata de narcisismo, amar a si é tomar como relevante condição de que, para amar o outro para além de mim, devo amar o outro que sou eu aos olhos de outrem. Amar a si é permitir-se cuidar para cuidar. É permitir-se respeitar a si próprio para respeitar o outro. É constituir uma identidade perene que se amolda à ética de Deus e, portanto, à sua justiça.
Quem descobre o caminho de amar entende que a Lei não é uma mera imposição, mas um jeito de ser e viver. Endente que amar a Deus, enquanto princípio único e inquebrantável, é o caráter perfeito de todos que creem e crendo não podem destruir a si e ao outro.
Aí está concentrada a sabedoria daquele que voltando-se para Deus observa o mundo com o olhar misericordioso do Pai e vendo-se acolhido nesse amor, acolhe o outro, cuida do outro sem se esquecer de si, templo vivo de Deus no chão deste mundo. Deus quer ser amado de modo concreto nos nossos irmãos e irmãs e quer ser amado em nós, por nós mesmos naquilo que somos e a partir de nós, de mãos dadas conosco, edificarmos o Seu Reino de Amor.
Pe. Jean Lúcio de Souza