Nossa caminhada quaresmal também é uma caminhada de aprendizados. Em cada texto do Sagrado Evangelho, em cada página ali escrita há contida uma dádiva, um ensinamento sempre novo sobre coisas antigas, um ensinamento sempre antigo sobre novos fatos.
Hoje não é diferente. Novamente temos diante de nós a cena da mulher surpreendida em adultério. São três desejos onde dois se contrapõem a um: o desejo de condenar a mulher, o desejo de condenar Jesus e o desejo de Jesus que é sempre o de salvar e restaurar.
Acredito que os fariseus equiparam Jesus, ou seja, eles têm o desejo de matar a mulher e têm o desejo de matar Jesus, por quais crimes? De um lado o crime de suas consciências e de outro o crime de não suportarem o justo no meio deles.
Apagar o crime de suas consciências, começando pelos mais velhos, aquela consciência relaxada que facilmente culpa e condena. Aquela consciência de apagar de suas vidas “a mulher que levava os bons homens a pecar” e ao mesmo tempo enaltecer uma comunidade cada vez mais inquisitorial, uma comunidade com pedras nas mãos, sempre pronta a condenar, julgar, exercer a máxima de seus preconceitos transvestida de conservadora da honra e defensora, sabe lá de que.
Do outro lado, a necessidade de apagar de suas memórias Aquele que reprova suas condutas cheias de maldade e horror. Homens com suas mãos sujas não da terra das pedras, mas do sangue dos inocentes, dos marginalizados, dos injustiçados e desvalidos.
Ao se levantar Jesus lança sobre eles apenas uma pergunta: quem não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra. Que teria causado uma reação tão imediata? Qual a razão da debandada daquela turba de homens ferozes e desejosos de sangue e morte?
Saíram... um por um. Jesus salva.
Mulher, alguém te condenou? Nem eu, vai em paz e mude de vida...
O Senhor resgata a mulher cujo nome é seu pecado. Jesus apaga o “adultera” e simplesmente diz “mulher”, considerando a nova possibilidade em sua vida e seu pedido é libertador é uma convocação: renove-se na nova criação da misericórdia de Deus.
Devemos estar atentos para entender, mais uma vez, de que lado estamos na história. Temos as pedras nas mãos? Estamos sempre prontos para acusar, julgar e condenar? De que lado estamos? Do lado da Esperança que brota do Evangelho da libertação e da vida? Do resgate integral do ser humano?
Pe. Jean Lúcio de Souza