Estamos diante de um texto muito complexo de se relacionar.
Este pequeno trecho do Evangelho de João, embora casado com toda liturgia da Palavra, está repleto de informações e cada uma dessas informações é passiva de interpretações diversas, mas sobretudo, aquelas que tratam sobre a relação íntima entre Deus Pai, o Filho Jesus Cristo e a controvérsia daqueles que se recusam a crer em Jesus.
É preciso antes trazermos à nossa reflexão alguns pontos da estrutura do Cap. 8 do evangelho joanino, para facilitar nossa interpretação neste curto espaço.
A primeira parte do texto (1-11) traz para a reflexão da comunidade o “julgamento” da mulher adultera que, estando desvalida e jogada num charco de traições é colocada como possibilidade de morte tanto para ela quanto para Jesus.
O jogo de traições tem início com o reconhecimento, por parte dos fariseus, de Jesus como mestre, mas de modo vulgar e pejorativo, tendo em vista que não o reconhecem como mestre, e que querem surpreendê-lo e condenar também Jesus, contudo, o juízo do Cristo é feito a partir do olhar da verdade: quem não tiver pecado atire a primeira pedra.
O pecado de todos é semelhante ao da mulher – prostituição e adultério – todos aqueles estavam prontos para condenar estavam no mesmo nível, por isso não puderam resistir a Jesus e ao seu julgamento de misericórdia e justiça. Ele é verdadeiramente o mestre, mas também é o Filho que julga segundo o olhar de Deus Pai, porque ouve a Verdade que é o Pai, por isso Jesus é o Verbo da Verdade que se conjuga na existência de nossas vidas.
Nos versículos seguintes (12-21) Jesus imediatamente já se apresenta como a luz – “Eu sou a luz do mundo” – isto não aparece neste capítulo de qualquer modo. A luz do mundo é a Verdade do Pai que Jesus nos revela e essa verdade é testemunho perfeito do Cristo no meio do povo santo, porque, sendo a Verdade o próprio Pai e sendo o Pai com Jesus, toda ação de Jesus é caminho verdadeiro que nos leva ao Pai.
A fala de Jesus (v.17) abre as portas para o texto de hoje, ora, se não conhecem o Pai (se não conhecem a Verdade), jamais conhecerão o Filho, portanto, todo caminho feito por aquele povo, cheio de “mestres” e “doutores” sobre a Palavra de Deus, fora feito na escuridão e ainda assim permanecem por não reconhecerem em Jesus, o Filho de Deus, enviado ao mundo como Verdade e Luz.
Desta forma, os versículos seguintes (21-30) tornam-se uma chamada de atenção para que saiam da escuridão da arrogância e da vaidade. Jesus chama-os à percepção da Verdade, chama-os a contemplar as coisas do alto, contemplar e viver aquele conteúdo único, perfeito e santo que só Jesus – o Mestre – pode dar a conhecer e se não houver um vivo crer em Jesus haverão de morrer na ignorância.
Disto Jesus insiste: Aquele que me enviou é fidedigno e, por assim ser, o que Jesus ouve é a Verdade revelada do Pai ao Filho que no-la apresenta para alegria e esperança do povo, porque a Verdade do Pai é libertadora. Saibamos, portanto, que ela liberta dos julgamentos injustos, liberta das cegueiras, sacia como água viva, retira dos túmulos da ignorância e da maldade, alimenta e cura.
Como ato final Ele irá partir, sozinho, e ninguém irá com Ele. Carregará sobre si nossos pecados, será elevado da terra e crucificado tudo será consumado no amor extremo de seu sagrado coração que irá se doar. Ali do alto será contemplado e enaltecido na glória da ressurreição atrairá os que verdadeiramente crerem, mas os que irão crer naquela Verdade de quem vê com os olhos misericordiosos do Pai e reconheceram que Jesus é com o Pai e nos apresenta sua vontade, por essa razão, ouvindo- o, creem, e crendo vivem.
Pe. Jean Lúcio de Souza.