A primeira leitura mostra o interesse que a pregação de Paulo desperta entre judeus e pagãos. Querem ouvir mais e Paulo os exorta a permanecerem na graça de Deus, isto é, na escuta do Evangelho. De fato, no sábado seguinte “quase toda a cidade” (v. 44) acorre a escutar a Palavra de Deus. Mas os judeus encheram-se de inveja e “incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade” contra Paulo e Barnabé, que são expulsos do território. É nesse momento que se dá a separação definitiva entre o Evangelho e o Judaísmo. Paulo reafirma o direito dos judeus a serem evangelizados primeiramente... Mas, uma vez que recusavam o Evangelho, era a vez de o anunciarem aos pagãos. Em Antioquia, os missionários declaram que se voltam para os pagãos, não só por causa da recusa dos judeus, mas também por causa das palavras de Isaías que, profetizando sobre o Messias, fala da “luz para todos os povos” (49, 6). Os cristãos são herdeiros do destino glorioso outrora reservado a Israel. O novo povo de Deus é toda humanidade. O gesto redentor de Jesus alcança a todos. Quanto aos discípulos, diz São Lucas nos Atos dos Apóstolos, “estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (v. 52). Que assim seja com todos nós.
No Evangelho ouvimos de Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!”. Jesus, no quarto Evangelho, fala frequentemente da sua relação com o Pai, da sua união com Ele, do fato de ter sido enviado por Ele. Os discípulos, representados por Filipe, queriam algo mais: uma visão direta do Pai. Eles, àquele momento, não souberam reconhecer na presença visível do seu Mestre as palavras e as obras do Pai (v. 9) porque, para ver o Pai no Filho, é preciso acreditar na união recíproca que existe entre ambos. E isto se dá só mediante a fé. Por isso, a única coisa que devemos pedir é a fé, esperando confiadamente esse dom. Jesus ao apelar para a fé, apoia os seus ensinamentos em duas razões: a sua autoridade pessoal, tantas vezes experimentada pelos discípulos, e o testemunho das suas obras (v. 11). A obra de Jesus, inaugurada pela missão que o Pai lhe confiou, de remir e salvar, é o começo. Os discípulos vão continuar a sua missão de salvação e farão obras iguais e mesmo superiores às suas. Ao dizer isso, Jesus quer dar coragem aos seus e a todos os que vão acreditar n´Ele, para que se tornem participantes convictos e decididos na sua própria missão. Nós fazemos parte desta mesma e grande missão, renovemos nossos compromissos batismais, nossa prontidão em dizer sim.
Deixo-me conduzir pelo Espírito de Deus ou pelo espírito do mundo? Acontece comigo o que aconteceu com Filipe, tanto tempo com Deus sem conhecê-lo? Creio firmemente em Deus e que em Jesus se realiza o Projeto do Pai, de tal maneira que quem o vê, vê o próprio Pai do céu, ou ando cego à semelhança dos apóstolos? Faço ou não as obras de Deus?
Senhor, dá-me aquela abertura de coração que é fonte de alegria perene, que é dom de amor generoso, que se alegra com o bem e com a felicidade dos outros, com todo o bem que há no mundo. Dá-me também aquele olhar penetrante da fé que me permite observar a tua presença e tua ação no mundo. Ensina-me a ler os sinais dos tempos para que não oscile entre o pessimismo e o otimismo. Ensina-me a arte do discernimento, na luz do teu Espírito, para que Te veja onde atuas e como atuas. Purifica o meu coração, para que me deixe guiar pela tua luz. Que eu possa, verdadeiramente, te amar, senhor, e ser teu colaborador na obra da vida e da salvação de meus irmãos e irmãs. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago