Lucas, no livro dos Atos, narra algumas curas de paralíticos: duas realizadas por Pedro (At 3, 1ss; At 9, 32ss.) e uma realizada por Paulo (At 14, 8ss.). Ele quer assim mostrar que os Apóstolos continuam as obras de Jesus, ao proclamarem o Evangelho aos judeus em Jerusalém e aos pagãos no seu próprio mundo. A reação do público, em ambiente pagão, foi a de glorificar os homens, a Barnabé e Paulo, como se eles fossem personificação dos deuses pagãos Zeus e Hermes. O discurso que vem a seguir é importante, porque é o primeiro diretamente dirigido aos pagãos. Não são citadas as Escrituras, mas eles são convidados a se converterem dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro, criador de todas as coisas. Além de ser um belo exemplo de inculturação e de adaptação à situação concreta dos ouvintes, esse texto é também para nós uma exortação à conversão diante das idolatrias do mundo e para realizarmos as obras de Deus.
No evangelho, vemos que a vida daquele que acredita é visitada por Deus. Deus habita no mais íntimo do coração de cada um. É, na verdade, em seu |Santo espírito, o doce hóspede da alma. Mas o evangelho também nos leva ao realismo. O amor do cristão não paira nas nuvens. É um amor muito concreto: “Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor” (v. 21). O amor que Jesus espera de nós não se manifesta em palavras ou sentimentos vagos, mas na vontade de amarmos a sua vontade. Assim foi o seu amor pelo Pai. Quem ama a Jesus, ama cumprir a sua vontade. E quem ama a Jesus, cumprindo a sua vontade, é amado pelo Pai, que quer a glorificação do Filho. “Se alguém me tem amor, guarda a minha palavra e o meu Pai o amará e Nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14, 23). Deus está dentro de nós. Somos chamados a experimentar o mistério de Cristo no mais íntimo de nós mesmos. O "coração", biblicamente entendido, é o lugar teológico da verdadeira oração, do encontro de amor com Cristo, nosso Deus e Salvador, e n’Ele com o Pai.
Tenho procurado viver a fé, com fidelidade, não me deixando tentar pela idolatria, pelos “falsos deuses” deste mundo? Testemunho a minha fé em boas obras, agindo em nome de Jesus, para que as pessoas sejam livres de seus males? Reconheço que Deus mora em mim e fala ao meu coração? Sou atento à sua Palavra de vida e salvação?
Senhor Jesus, eu te bendigo e Te dou graças porque, hoje, me fazes compreender a maravilha de ser habitado por Tua presença e Teu amor. Dá-me a graça de apreciar esse magnífico dom e de desejar, com todo o meu coração, viver Contigo numa intimidade cada vez mais profunda. Faz-me amar o que me ordenas, de modo que possa viver e experimentar o teu amor sem medida.
Perdoa-me, por vezes, superlotar o meu coração de coisas que não deixam lugar para Ti, que monopolizam a minha atenção, fazendo-me esquecer de Ti.
Que, em todos os momentos da minha vida, eu possa ver-te e ti sentir como o meu Tu e estabelecer Contigo um perene diálogo de amor. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago