Na primeira leitura, vemos que ao contrário do que seria de esperar, quem toma a palavra para defender o ponto de vista da fé levada aos pagãos (gentios) não é Paulo, mas Pedro. O apóstolo defende essa iniciativa usando os seguintes argumentos: foi ele mesmo quem inaugurou a missão entre os pagãos, ao batizar Cornélio e a sua família, tendo a igreja de Jerusalém aprovado a sua atuação (At 10-11); Deus aprovou e confirmou essa atuação ao enviar o Espírito Santo sobre os pagãos; o próprio Deus, mediante a fé, purificou os corações dos gentios, que os judeus julgavam impuros. Então se a fé toma o lugar da Lei, como meio de purificação, não é preciso suportar o seu jugo, tão pesado, inclusive, para os próprios judeus. Finalmente se afirma que o homem é salvo não pela Lei, mas pela graça de Jesus Cristo. Aos discursos de Pedro e de Tiago se somam o testemunho de Barnabé e de Paulo, traduzindo um longo processo de discernimento comunitário. E assim, movidos pelo Espírito, tomaram decisões que favorecerão a salvaguarda da liberdade do Evangelho e a unidade da Igreja. A leitura nos mostra como os primeiros cristãos perceberam que o mais importante, para além da observância formal da Lei, era permanecer unidos a Cristo pela fé e pelo cumprimento da sua vontade.
No Evangelho vemos que o amor de Jesus pelos seus discípulos tem origem no amor que circula entre o Pai e o Filho. É essa comunhão de amor que está na origem de todas as intervenções maravilhosas de Deus para salvar o homem: “Como meu Pai me amou, assim Eu também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (v. 9). Os discípulos devem corresponder a este amor, observando os mandamentos de Jesus, permanecendo no seu amor, obedecendo ao Pai como Jesus obedeceu: até à morte e morte de cruz (Fl 2, 8). A lógica é simples: o Pai amou o Filho, e este, vindo ao mundo, permaneceu unido no amor ao Pai por uma atitude constante de obediência à sua vontade. O mesmo deve acontecer entre Jesus e os discípulos. Estes devem realizar fielmente o que Jesus realizou durante a sua vida, e testemunhar o amor de Jesus permanecendo unidos no seu amor. Mais importante do que amar a Jesus é deixar-se amar por Ele, acolher o amor que o Pai, por Jesus, oferece a cada um de nós. Para isso, precisamos observar docilmente os mandamentos, a exemplo de Jesus.
Sou atento aos apelos de Deus para a minha vida? Procuro viver unido a Cristo e cumprindo, em tudo, a vontade do Pai? Observo, com docilidade, os mandamentos de Deus? Testemunho o amor de Deus no serviço da caridade para com meus irmãos e irmãs?
Senhor, permanece em mim e eu permanecerei em Ti. Sim, Tu és a videira, e quando me separo de Ti, sinto-me morrer. Mantém-me unido a Ti na graça santificante, na recordação assídua da tua presença, na meditação dos teus mistérios. Quero permanecer no teu coração. Lá está toda a minha vida e a minha felicidade. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago