Em Jesus está contida a sabedoria do Deus Vivo e Verdadeiro, sabedoria que não permite que a realização do Reino de Deus seja combalida.
Ainda ontem, dentro do Evangelho de São Marcos, acompanhávamos a cena da ação de Jesus que energicamente expulsava de dentro do templo as pessoas que se associavam às ações comerciais, capitalizadas e de domínio escuso, pela piedade, na busca do lucro e da exploração do povo simples a partir do nome de Deus. A ação do Senhor causou indignação e revolta naqueles chefes institucionais da religião de Israel, quando, de pronto, deveriam corar as faces e mudar de postura, desde aquele episódio, procuraram intervir na situação da pior maneira, isto é, matando Jesus.
Na pergunta dos sumos sacerdotes, dos mestres da lei e dos anciãos, figuras do poder religioso, estava contida a oportunidade de dar fim à voz de Jesus. Ele, com sua sabedoria, provocava constante constrangimento neste grupo contrário ao modo de ser do Senhor, que anunciava o Reino de Deus dando pleno cumprimento à Palavra do Pai. Apenas uma resposta seria o suficiente para decretar sua morte e verem-se livres do Senhor, como estavam de João Batista. Estavam à espera de um “equívoco”: qual a autoridade de Jesus, quem lhe havia outorgado tal autoridade?
De nossa parte, homens e mulheres cristãos e cristãs é preciso perceber que Jesus se coloca veementemente contra qualquer estrutura de dominação e de cerceamento da plena liberdade de crer e ser em Deus. Ele se coloca contra às estruturas de dominação popular que inseriam (e inserem) o povo no ordo da ignorância da fé, no medo, na espoliação econômica e das detestáveis práticas religiosas desconexas do verdadeiro sentido do amor de Deus e de sua Misericórdia.
Há uma luta. São duas posturas adversas declaradas: de um lado o profeta João que ainda lhes atormenta a consciência e agora o Senhor da vida que traz o povo para o caminho verdadeiro, de outro lado, o domínio religioso e político que matinha o povo preso nas antigas e tão atuais estruturas de domínio em nome da fé.
Quando o Senhor adentra o templo e conclama o povo ao zelo pela casa do Senhor, por sua santa habitação, Ele enfrenta o desejo e a ganância. Ele abre a ferida da instrumentalização da fé que domina o povo e o culto sagrado. Parece uma repetição das advertências do Batista.
João Batista havia enfrentado aquele poder paralelo e mesquinho. Ele era, para as autoridades carcomidas pela ambição, um grande contraponto frente ao crer viciado. Chamou as más autoridades judaicas de raça de víboras – raça de víboras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? – uma investida perigosamente profética que incomodou e inaugurou uma nova história no seio da comunidade hebreia.
Que fazer? Este homem (Jesus) fala com coerência e justeza. Ele está pautado na verdade, não há nele falsidade alguma. Ele atrapalha nossos negócios. É preciso destruí-lo, aniquilá-lo antes que Ele nos destrua. Que fazer? É preciso surpreendê-lo, contradita-lo contra si mesmo, apanhá-lo nalguma controvérsia. Qual sua autoridade? Quem lha havia dado? Vamos juntos...
O circo estava formado!
Mas Ele não será confundido porque procura o bem. Ele é valente. A Lei do Senhor Deus torna-se perfeita em Jesus Cristo.
Tendo consciência da importância de João Batista, o precursor, enquanto profeta do Altíssimo, verdadeiro arauto da vontade de Deus, Jesus, após mais um tenso episódio é enfrentado pelas autoridades judaicas dentro do templo. Seria possível? Era real essa cena o próprio Filho de Deus sendo questionado na casa do Deus Vivo? Poderia mesmo a criatura questionar a autoridade do Filho do Homem?
Questionaram...
Contudo, Jesus, percebendo sua maldade encerra a investida com um sábio questionamento: “o batismo de João vinha do céu ou dos homens”? Percebemos como o grupo se perdeu, não podendo atender ao questionamento do Senhor.
Como diz o ditado popular: “foram buscar lã e saíram tosquiados”.
O Evangelho de hoje nos coloca em sintonia com as realidades que Jesus teve que lidar enquanto caminhava com os discípulos. Haviam divisões que necessitavam ser superadas e que só poderiam ser superadas na proximidade com o Senhor. Olhar a fé e a prática da fé requer de nós uma atenção especial com aquilo que verdadeiramente importa na caminhada da edificação do Reino de Deus.
É ter os olhos fixos em Jesus e dizermos não com coerência a tudo e todos que comercializam a fé e tornam lucros, capitais e riquezas acima do anúncio do Evangelho. A Igreja pobre para os pobres ainda é uma realidade a ser conquistada. A Igreja que coloca seus dons, serviços e patrimônio a serviço de todo povo de Deus, na busca da superação da fome, do ódio, dos preconceitos. Uma Igreja amadurecida pelo Evangelho que se movimenta no Espírito Santo que celebra a vida no Altar do Senhor e que, verdadeiramente, reconhece em cada pessoa que o local da habitação de Deus é a Igreja, que enfrenta os poderosos e os deixa sem reação frente ao bem que deve ser feito.
Pe. Jean Lúcio de Souza