Encerramos algumas semanas atrás o período pascal em que, a partir do Senhor da vida, contemplamos o mistério de Sua paixão, morte e ressurreição. Celebramos a esperança de nosso feliz destino ao lado de Deus que não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.
No Evangelho de hoje há contida duas querelas, uma que versa sobre as realidades últimas da fé, ou seja, a ressurreição e outra que versa sobre uma realidade social tristíssima a aniquilação da liberdade de ser da mulher.
Conversaremos rapidamente sobre essas duas realidades, começando pela realidade social. As mulheres eram coisificadas na realidade social de origem do Evangelho de Marcos, muito mais que hoje. A lei do Levirato dava o direito ao irmão do marido falecido de alguma mulher que não houvesse deixado descendência a se casar com tal mulher a fim de garantir descendência ao irmão falecido e manter em segurança o seu patrimônio.
O que se percebe nessa ambiência? A mulher não possuía liberdade de escolha sendo obrigada a se submeter à lei. Na sequência do Evangelho de hoje aquela mulher foi literalmente transformada em objeto de descarte dos homens daquela família sendo vilipendiada por todos os sete irmãos. Mesmo sendo uma possibilidade posta para ilustrar e contraditar Jesus sobre a ressurreição, o fato posto como exemplo, deixava claro o “valor social” da mulher, quase um quarto de despejo.
Os saduceus não acreditavam na ressurreição e também não criam nos anjos, sendo opostos aos judeus quanto a esses fatos da fé. Não acreditando na ressurreição, caberia aos mesmos a busca de situações que colocariam Jesus em um ambiente vexatório sobre seus ensinamentos que apontavam para esse evento.
Como nos ensinam os teólogos Jesus mostra o erro dos saduceus usando para isso a própria incompreensão dos inquisidores acerca da Palavra de Deus. Usando o próprio Moisés que declara ser Deus o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó, ou seja, de pessoas vivas, sustenta a ideia da ressurreição refutando os argumentos contrários e acentuando que a ressurreição é caminho que se faz na esperança do amor de Deus Pai.
A resposta de Jesus oferece não só uma investida contra a ideia que não aceitava a ressurreição, ela vai aléma pureza dos seres angélicos (também não aceita pelos saduceus) significa uma conduta de respeito, amor e zelo pelo ser humano. Não se dar em casamento, mas ser como anjo, significaria ser aceito por Deus por suas condutas retas e de respeito à dignidade humana. Se uma mulher não era respeitada em sua dignidade é fato que não crer na ressurreição seria quase um conforto por excluir a ideia de estar presente na presença de Deus eternidade a fora, sendo quase nula a imagem da proteção e do cuidado que caberia a todos por todos, não se submetendo ao juízo que apontaria a falta de cuidado com a pessoa.
E mais, Jesus tem o desejo de ensinar categoricamente que o pensamento dos saduceus estava preso nas realidades efêmeras: patrimônio, usabilidade e descarte da mulher, sobre a falta de respeito com as realidades postas pela própria Palavra quando fala da vida plena em Deus. Quanto mais a vida se liga aos atos de amor, de misericórdia e perdão, de partilha que edificam a existência e apontam que a ressurreição é dom Deus que completa o ato da criação (SOARES; CORREIA JUNIOR; OLIVA).
Pe. Jean Lúcio de Souza