« O Deus encarnado atrai-nos todos a Si. Assim se compreende por que motivo o termo agape se tenha tornado também um nome da Eucaristia; nesta, a agape de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua ação em nós e através de nós » Papa Bento XVI (DCE)
Desde muito tempo sempre me encantou a resposta da Comunidade Eclesial reunida para celebrar a Eucaristia quando Padre diz “O Senhor esteja convosco!”. Tudo fica mais encantador quando a comunidade uníssona responde: Ele está no meio de nós! Aqui a comunidade não apenas repete uma parte do rito Eucarístico, mas reconhece que, de fato, Ele está no meio de nós.
Para mim, isto é lindo e assim sempre permanecerá, como uma de minhas mais encantadoras memórias Eucarísticas. Se em algum dia faltasse para mim o fôlego da lucidez, que o Senhor conservasse em mim essa lembrança, porque nela estará contida de modo pleno e intimo a comunhão com o Cristo Eucarístico, comunhão de amor, que jamais, nunca e em hipótese alguma será quebrada enquanto se disser – Ele está no meio de nós...
A Eucaristia... Seu Corpo e Sangue... ah é Ele, Ele está no meio de nós!
Se percebermos bem a tradução que temos para este texto leva-nos em cheio ao “está no meio de nós”. Sim, Jesus está no meio de nós como verdadeiro alimento para a vida eterna. É Ele quem se proclama alimento. É Ele que Se nos dá para saciar nossa fome e sede da presença da Verdade última de nossa unidade com seu amor que se doa a nós sem reservas, todos os dias, sendo presença no meio de nós, vivo e verdadeiro.
Como bem ressaltou o Papa Bento XVI, de saudosa memória, na Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis”: na Eucaristia, Jesus não dá « alguma coisa », mas dá-Se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Deste modo dá a totalidade da sua própria vida, manifestando a fonte originária deste amor: Ele é o Filho eterno que o Pai entregou por nós.
Interessante celebrarmos a Festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus. Acredito que esta festa poderia também ser chamada também de a Festa da Presença ou a Festa da Comunhão, quem sabe até de a Festa do Compromisso Cristão? Sim, se celebramos o Cristo total, o celebramos na comunidade que se une a Ele neste sacramento altíssimo, logo celebramos nosso compromisso de unidade, nossa comum união com Jesus, fonte originária do amor, donde nos saciamos para a vida eterna, junto com todos, unidos ao Senhor, num mesmo corpo, “ut unumsint” – para que todos sejam um!
É Festa da Presença, porque o Senhor está no meio de nós, conosco e, Se dá em alimento a todos, sem reserva. Quando o recebemos em alimento sua presença se estende por onde passarmos. Levamos a presença do Cristo a todos pela Eucaristia celebrada, comungada e vivida. Ele nos ensina – Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente – vive eternamente porque Ele está presente em nós e nós estamos Nele e Ele nos conduz e tal qual o salmista podemos proclamar: certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por dias sem fim (Sl 23, 6). Ele nos ressuscitará no último dia...
Tudo isso significa que a Festa da presença se arrasta para vida eterna, significa que estamos com Ele hoje, junto aos irmãos e irmãs, e para todo sempre.
É Festa da Comunhão porque se estamos unidos ao Cristo, inevitavelmente estamos unidos ao Pai e ao Espírito Santo. É a festa da Comunhão Trinitária, porque recebemos a Palavra do Pai e participamos com o Cristo da mesma missão que o Pai Lho outorgou – como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que me recebe como alimento viverá por causa de mim – e sempre impulsionados pelo Sopro Divino viveremos a comunhão com a Trindade, avivados pelo Espírito que aquece nossos corações vivemos o entusiasmo da unidade.
Mas, não se pode deixar de lembrar do “vos darei”. Não se trata de uma fé Eucarística no Corpo e Sangue do Senhor para vivermos no isolamento ou no ostracismo. Tão pouco julgarmos que o Alimento Eucarístico é prêmio para os intocáveis pelo pecado. A Eucaristia não é e não pode ser sinal de divisão. A Eucaristia é a celebração do povo cristão por excelência, onde todos são convidados, incluindo os que estiverem perdidos pelo caminho para se encontrem com o Cristo na ceia que “arranca o que está dividido”.
É a Festa da comunhão e da participação. Quem está unido (a) ao Cristo por este Pão e Vinho Consagrados no Espírito participa de Sua missão, todos e, ali, de fato, “ninguém solta a mão de ninguém”.
Esta participação se professa na vivência comunitária e como bem ressalta o Papa Bento XVI: quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial por meio duma adesão convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos. Testemunha-o a própria história da Igreja: toda a grande reforma está, de algum modo, ligada à redescoberta da fé na presença eucarística do Senhor no meio do seu povo.
Por essa razão é, inevitavelmente, a festa do Compromisso Cristão. A grande Nova Aliança no Cálice do Senhor sela nossa adesão a Ele e nosso desejo de agirmos em sua presença na força e dinamismo do Espírito Santo que o consagra no Jordão – no início da sua missão pública, nas margens do Jordão, vê-O descer sobre Si em forma de pomba, neste mesmo Espírito, age, fala e exulta e é n'Ele que Jesus pode oferecer-Se a Si mesmo – e nós o acompanhamos nesse oferecimento.
Na belíssima catequese do Papa Alemão, também nós confessamos, em cada celebração, o primado do dom de Cristo; o influxo causal da Eucaristia, que está na origem da Igreja, revela em última análise a precedência não só cronológica, mas também ontológica do amor de Jesus relativamente ao nosso: será, por toda a eternidade, Aquele que nos ama primeiro.
Irmãos e irmãs Ele está no meio de nós! Vivemos por causa Dele porque O recebemos em alimento eterno. Nós viveremos para sempre em seu amor que se doa, cotidianamente no seu corpo partido no sangue derramado.
Feliz Festa da Presença do Senhor em nós e nós Nele para a vida Eterna.
Pe. Jean Lúcio de Souza