Marcos é muito perspicaz ao lançar diante dos discípulos e da comunidade duas invectivas potentes, lembrando que pouco antes Jesus desmonta um “símbolo de dominação da crença popular”, a saber, a forma como viria o Messias – reinante e dominador – para o Messias manso e humilde de coração.
Num primeiro momento Jesus adverte ao povo para tomar cuidado com o ensinamento dos doutores da lei que, agindo mal, agiam na opulência de suas roupas e franjas, encantando pelo brilho externo, o orgulho dos primeiros lugares e do destaque, afastando-se da dimensão da humildade e do silêncio e, por fim a vaidade de serem reconhecidos e aclamados. Essas condutas fariam com que qualquer pessoa se afastasse da ideia do serviço e começasse a devorar os pobres e desvalidos como ocorria, no trecho de hoje, com as viúvas.
No mesmo episódio aparece quem? Uma viúva, pobre, que reconhecia suas obrigações diante do templo, com certeza orientada pelos mestres da lei. Contudo, o que os demais entregavam era o resto, a sobra e mesmo que fosse em grande quantidade tudo aquilo não passava de falso brilho e vaidade desmedida que provocava, sustentava e aumentava a distância entre os pobres e os ricos, no lugar onde isso deveria ser impensável. Aqueles viam-se na penosa obrigação de dar o que mal possuíam, mas entregavam com o coração a sua “força” ao Senhor. É o que entrega a pobre viúva ela oferece tudo que tem e oferece tudo que é (sua pessoa, sua viuvez e fragilidade) a Deus.
Tomar cuidado com o falso brilho contido em palavras afiadas na prática da ilusão. Tomar cuidado com os falsos profetas da prosperidade. Tomar cuidado com aqueles que são dados à violência humana e econômica, dos homens e mulheres que se colocam no absoluto da falsa moral e de uma ética às avessas dentro de nossas comunidades que levam o povo a se afastar de seu compromisso de ser tudo para Deus no zelo e no cuidado dos menos favorecidos da comunidade dos fiéis. Esses e essas, que são maus, devem ser evitados e não idolatrados.
Pe. Jean Lúcio de Souza