Caros irmãos e irmãs, o texto que temos hoje para meditarmos é continuação do texto das bem-aventuranças. Naquele texto, meditado no dia de ontem, acentuamos a compreensão de sermos mais atentos ao que o Senhor diz, porque, quem diz é o Senhor Deus. Jesus fala o que ouviu do Pai (dando a essas palavras pleno cumprimento). As palavras de Jesus são palavras do Pai, expressão o desejo de Deus para todos aqueles que, de coração sincero, se aproximam do Senhor.
Hoje, essa necessidade aumenta de modo singular. Para adentrarmos na dinâmica das bem-aventuranças, a pedido do próprio Deus, é preciso que seja arrancado de nossos corações um sentimento muito perigoso: a ira.
A ira abre as portas para a raiva, a raiva para o ódio, tudo isso nos cega e cegando-nos, produziremos os frutos amargos da morte. Nossas posturas serão odiosas e nos afastarão da mansidão que embora produza um fruto direcionado ao futuro – possuirão a terra – este só será alcançado na vivência de quem repele o ódio de sua vida.
Quando deixamos que o ódio tome conta de nossas vidas, na forma da ira, a lembrança nos tortura e no afã de sufocar a lembrança poderemos sufocar a vida de outrem.
Jesus é sábio e coloca o altar diante da comunidade. O altar sem dúvidas nos lembra o sacrifício. Perdoar, por vezes, por se tornar um sacrifício porque a mente humana dá voltas e sempre esbarraremos na lembrança de um feito negativo, porém, superar é seguir adiante fazendo a oferta de si junto ao perdão integral, contínuo e constante. Essa atitude nos afasta do ódio, por nos colocar no mesmo ambiente de quem busca e promove a paz, de quem diz: basta! Mais vale minha tranquilidade espiritual e ética.
Perdoar é e sempre será deixar Deus participar da memória.
Por isso, no terceiro e derradeiro ponto do texto de hoje é preciso “negociar” as condições que nos afastam da busca da paz e da mansidão. Interromper a guerra, o litígio enquanto ainda se caminha para o tribunal é importante.
O tribunal de nossas consciências é implacável. Resolver tudo que nos impede de superar a justiça farisaica, isto é, a justiça do “toma lá dá cá”, comprovará que temos dado ouvidos ao que o Senhor nos diz, um chamado a sermos verdadeiramente sal da terra e luz do mundo.
Este é o dom precioso que nasce da humildade e como diz Afraates, o sábio persa: “o humilde é humilde, mas seu coração eleva-se a alturas excelsas. Os olhos de seu rosto observam a terra e os olhos da mente a altura excelsa”.
Pe. Jean Lúcio de Souza