Cora Coralina, de saudosa memória, uma poetisa fantástica escreveu um poema (sobre o coração) que, acredito, seja um desabafo. Pensei em colocar todo poema por aqui, mas um pequeno fragmento já nos ajudará e, como já dizia Adélia Prado “o que não é poesia eu não publico”, usarei poesia para começarmos nossa conversa de hoje.
Cora escreveu assim:
Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lajedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...
Bom, parece que Cora Coralina estaria brava com os corações endurecidos mundo a fora. Os corações endurecidos têm dificuldade em trazer para dentro de suas vidas uma luz que possa quebrantar todas as suas querelas internas. Quando assim procedem são lajeados, são corações de pedregulho, seixos rolados, são casas vazias de alegria, portas sempre fechadas e nada ali se encontra.
O coração Imaculado de Maria é o inverso desse poema, que parafraseando a poetiza ficaria assim:
Coração é terra que ninguém vê: diz o ditado.
(mas o de Maria Deus viu)
Plantou, regou, e a fé foi brotando na casa de Jessé.
Terra de Nazaré, de pedregulho, não é:
- teu coração, é doce! Bati (Deus) na porta de um coração.
Bati. Bati. Escutei: faça-se!
Casa cheia. Portas abertas,
foi que encontrei...
Assim é e podemos dizer que na Festa do Imaculado Coração de Maria encontramos uma nova perspectiva: a Mãe, Maria de Nazaré, que manteve seu coração em tal simbiose com o Senhor Deus que não foi terra estéril.
Pode vir coisa boa de Nazaré? Claro que sim! E veio, do coração e do ventre de Maria Imaculada, o Fruto Bendito. Um coração sempre aberto a Deus, um sim indefectível, a esperança do novo Israel, toda vontade do Senhor é feita e, sem reservas, o mundo todo escuta: meu Imaculado Coração, já triunfa, no compasso do Coração do Meu Filho Jesus, escutai-O.
Pe. Jean Lúcio de Souza