Nosso coração é um bauzinho de tesouro. O bauzinho pode ser uma caixinha de música, uma caixa de sapatos branca, pode ser uma mochila, depois podem “evoluir” para os bancos, depois para uma aposentadoria concedida para cuidar de nossos corpos combalidos e, depois, quem sabe, uma urninha chamada caixão, onde pode ser depositado um corpo cheio de ilusões...
Os tesouros podem mudar de lugar, conforme o olhar.
Quando éramos crianças, às vezes, uma tampinha de garrafa amassada, porém colorida e brilhante, se transformava em tesouro. Um pote cheio de bolinhas de gude. Ou para as meninas bonecas e vestidos. Noutras vezes, nalgumas brincadeiras infantis, a beleza era encontrar um tesouro perdido, em algum lugar escondido, que nós mesmos, embora criando a fantasia, não sabíamos onde ele estaria, mas continuávamos nossa brincadeira, procurando o “incontrável”.
Certo é que ao final do dia, o banho quente para tirar toda sujeira do dia de brincadeiras, o sofá e o programa do Chapolin Colorado e do Chaves e, então, crianças completamente alheias ao mundo dos adultos, descobríamos que o tesouro não brilhava lá fora, mas brilhava cá dentro de casa. E ainda tinha a janta, quem sabe a sobra do almoço, ou um ovo estalado com arroz e banana, seriam tesouros saborosos.
Mas um dia nos disseram: pare de chorar isso não é coisa de homem! Ou você já está grande demais para isso? A famigerada e ridícula pergunta: o que você vai ser quando crescer? (busca pelo lucro no coração infantil ou a pergunta quererá dizer: “quando você nos dará sossego?”... Era preciso mudar o olhar para o tesouro, então, evolutivamente, mudamos.
Quando jovens acreditamos que nosso tesouro é a liberdade louca e pagamos, às vezes, muito caro por ela. Enfrentamos nossos pais, queremos romper com nossas raízes. A ética que aprendemos em casa, por vezes, torna-se ineficaz frente a um mundo enorme, precisando ser desbravado por nossas arrogâncias para confirmarmos que nosso tesouro é a liberdade (afinal nos disseram, você já é bem crescido (a)).
Não calculando bem o tamanho dos passos e tão pouco a direção e o regresso para casa é certeiro, com joelhos ralados, corações atormentados e descobrimos que um copo de leite com biscoito e o colo quente de nossas mães e o abraço de nossos pais são os tesouros, que deixamos, para galopar nas incertezas da vida, sem ainda termos domado o cavaleiro ou a amazona que somos.
Mas isso também nos será tirado e seremos jogados nas grades... grades curriculares de nossos cursos médios, a loucura insana do Enem. Seremos colocados nas grades curriculares de nossas faculdades celeiros de loucos pelo primeiro milhão, mas nem sabemos fazer pipoca ainda?
Quando adultos, adulteramos a realidade da vida. Adulterar no sentindo pleno, falsificar, trocar a realidade por uma outra que embora “encantadora”, suga nossas forças, abaixa nossos corpos à terra sem mesmo termos morrido e caminhamos mundo a fora, por vezes, fazendo o que não estamos contentes, nem o que nos alegra, mas na busca desenfreada pelo vil metal, submetemos nossa existência à maldita comparação e ao sucesso a todo custo. Nesse caso, nos frustramos diuturnamente por não termos certeza para onde olhamos (afinal não ganhamos nosso milhão!) e nem o que buscamos porque buscamos a meta que o mundo nos impõe e embarcando nesta “vibe”, como dizem os jovens, e, mais uma vez sufocamos nosso viver e colocamos nossos tesouros nos status e nos feeds da vida vazia e fria que queremos nos encaixar.
Será que estamos deixando que nos roubem de nós mesmos e nos roubem, portanto, do amor de Deus?
Onde está verdadeiramente nosso coração?
Para onde temos direcionado nossos olhares?
Estamos cansados, desiludidos? Já aposentamos e apenas existimos e não mais vivemos?
Qual o brilho que realmente trazemos no olhar?
Vale a pena pensarmos muito na proposta de Jesus.
Nosso tesouro está em Seu coração, seus valores são preciosos e nossas vidas ao seu lado são repletas de riquezas.
Pe. Jean Lúcio de Souza