“As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros, leve-as no coração!” (Dom Hélder Câmara)
Toda pessoa que se aproximou do Senhor, se com sinceridade se dispuser viver conforme o que ouviu de Cristo, irá desfrutar em sua história de dois benefícios: ser perseguido por causa da verdade do que ama e de Quem ama e se alegrar pelo benefício de permanecer na presença do Senhor.
O profeta Jeremias na primeira leitura solta um “desabafo”. Ele fala sobre a condição da pessoa que escolheu exercer uma das faces da vocação Cristã, nascida no batismo, a profecia.
Ser profeta, comunicar uma profecia, não é comunicar o futuro, ser e exercer a profecia é e sempre será “falar em nome de Deus” o que Ele nos pede para comunicar. Ser profeta é a dimensão eclesial que exige o dom da Coragem que vem do Espírito de Deus, exige permanência e audiência constante da Palavra do Senhor, para discernir e comunicar sua vontade, para comunicar sua Palavra.
A profecia quando exercida com coerência dentro da Igreja gera, gesta, o conflito, um verdadeiro “sacudir” nas classes que se levantam para lutar em benefício do Evangelho que nos chama à justiça e à prática do bem e da verdade.
Todas as pessoas que se aproximam do Senhor são chamadas ao exercício desta face de sua vocação. A profecia é o inquietar-se no Espírito que não compactua com as injustiças e maldades e inculca em nós esse mesmo inquietar.
Verdadeiramente o Senhor está ao nosso lado quando somos profetas. Ele caminha conosco e não deixará que sua Palavra caia no chão sem produzir efeitos. Ele não quer que estejamos, na história, ao lado dos maus e covardes, por isso anda ao nosso lado, nada se perderá. Ele quer que, à semelhança dos verdadeiros profetas, nossas vidas germinem em vida em favor do povo, sobretudo para os mais fragilizados.
O Senhor está em nós... cantemos seus louvores porque pela profecia nos resgata.
Assim, Jesus nos chama a não termos medo da profecia e exercê-la em nome de Deus, com coerência e sabedoria. Somos chamados a continuamente proclamar a Palavra do Senhor e suas maravilhas por onde passamos. Somos chamados a viver com coragem diante do Senhor e segui-Lo na firmeza deste propósito vocacional.
Verdadeira é a Palavra do Senhor que diz: todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.
Interessante lembrar o Senhor que nos diz: todas as vezes que fizermos algo de bom, justo e verdadeiro a um dos pequeninos do Reino, foi a Ele mesmo quem praticamos. Declarar-se em favor do Senhor, é declarar-se em favor de sua causa e agir conforme aquele querer – por isso não ter medo – aí a profecia ganha forma e força e será aí que seremos perseguidos por causa da verdade que amamos, a Verdade que é o Caminho que nos leva ao Pai: Jesus.
Declarar-se em seu favor é ter voz para proclamar sobre os telhados as injustiças acontecidas no meio do povo santo de Deus e que atingem ferozmente nossas histórias. A profecia nos leva à denúncia do mal, nos leva a buscar a verdade e transformá-la em vida plena no meio do povo.
Interessante: quando essas vozes proféticas se levantam, igualmente as pedras voam sobre essas pessoas tentando silenciar suas vozes. Lembro-me de vários homens e mulheres que em nosso século levantaram suas vozes em favor da causa de Deus e se declararam em seu favor e muito sofreram.
Lembro-me de Dom Helder Câmara, o santo rebelde, que no século passado levantou e sobre os telhados da ditadura e da miséria que atingia o povo, viveu a profecia com coragem, mas pagou, no seu tempo, um preço caro por amar o Amado e sua proposta de vida. Ele, profeta, foi símbolo de resistência contra o mal e seus horrores.
“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro porque os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”.
Ainda podemos citar Dom Luciano Mendes, nosso Arcebispo, que na luta contra todos os tipos de tristezas sociais, levantou sua voz inúmeras vezes para combater o mal. Descobre que ainda neste tempo, o melhor é fazer o bem aos outros, para resgatar e libertar.
“É a situação de populações sofridas, esmagadas, incompreendidas, empobrecidas que também desperta uma grande vontade de trabalhar e ajudar. São populações, às vezes, indígenas e, às vezes, que passaram pela tristeza da escravidão. Poder comungar com essas realidades é um aspecto que me ensinou a perceber que Deus não tira as dificuldades, mas ajuda a superá-las. Não se deve pedir um milagre porque o milagre é uma exceção dentro da normalidade da vida humana, mas pedir força para enfrentar essas situações, justamente em comunhão com as outras realidades em que tantos se encontram e são muito mais árduas do que aquela que uma pessoa isoladamente pode enfrentar.”
E tantos outros, sejam padres ou bispos, sejam leigos e leigas atuantes na vida das comunidades no enfrentamento das injustiças que levantam suas vozes como verdadeiros profetas do Senhor nosso Deus que, na ciranda da vida, vão aos telhados para reclamar a vida em favor de muitos.
Hoje somos chamados à profecia. Como diz nosso Padre Juquinha: a igreja não pode perder a profecia. De fato, não podemos silenciar nossa vocação.
Pe. Jean Lúcio de Souza