Cada pessoa, no chão deste mundo, edifica sua história sob dois padrões, isto é, a convivência consigo mesmo e a convivência com as demais pessoas. Somos pessoas relacionais, não podemos, buscando a sanidade, viver “isolados”, nem de nós, nem dos outros. Desta forma descobrimos que a vida humana é um entrelaçar de vidas, uma comunhão de histórias, um somatório de perspectivas em vista de um bem comum, que nutre e edifica a vida.
Relacionar-se consigo mesmo e criar, na pessoalidade, um ambiente sadio para que cada um se conheça melhor favorece a forma como nos relacionaremos com as demais pessoas. Se convivemos bem conosco, é bem provável que conviveremos bem uns com os outros ou que nos esforçaremos ao máximo para que o bem que desejamos a nós seja praticado em favor dos outros, como vimos no Evangelho de ontem.
Jesus não é bobo. Ele conhece as pessoas por dentro, pelo olhar, pela forma como falam e se comportam. Jesus tem um jeito especial de conviver conosco, porque, antes, convive bem consigo ao ponto de poder declarar – ninguém retira a minha vida, eu a dou livremente (Jo 10,18) – e Ele a retoma em si e a comunica a nós.
Jesus é livre e a liberdade é um fruto saboroso que poucos sabem desfrutar.
Neste sentido, somos chamados a observar como estamos nos colocando diante de nosso compromisso cristão. O cristão e a cristã são chamados a produzir bons frutos no meio da sociedade. Onde a Igreja estiver plantada, anunciando o Reino de Deus e falando em seu nome, como profetas que somos pelo batismo, somos chamados a observar nossos frutos.
Por vezes, algumas pessoas acham que ser cristão, que pertencer ao Cristo significa assumir a acidez na vida, o amargor, a cara fechada e amarrada e o olhar de constante julgamento sobre os outros. Pobres almas! Como diz o trocadilho: um triste cristão é um cristão triste (e difícil de se conviver), porque os frutos, embora na intenção possam ser bons, na colheita saíram fracos, mirrados, sem sabor ou azedos.
Lembro-me do que diz Jesus aos fariseus e doutores da Lei: “Ai de vocês doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês percorrem o mar e a terra para converter alguém, e quando conseguem, o tornam merecedor do inferno, duas vezes mais que vocês!” (Mt. 23,15). Tristes frutos produzidos por lobos vorazes.
Estar bem consigo é estar bem, no coração de Jesus. Quem está bem consigo não fala mal das pessoas, mas busca compreendê-las na esperança de que os corações possam se encontrar num propósito de vida. Estar bem consigo é buscar ter o olhar de Jesus para todas as situações da vida e perguntar, serenamente, ante cada fato, ante cada pessoa: o que faria Jesus no meu lugar, nesse momento?
A cada pergunta feita o Evangelho nos responderá na perspectiva do acolhimento, da misericórdia, do perdão e do amor que resgata. Não buscaremos a conversão de ninguém, mas buscaremos amar, seremos alegres (porque a alegria do Senhor é nossa força) e os frutos bons e saborosos serão ofertados à sociedade por meio da Igreja, esposa de Cristo, que oferecerá ao mundo, seus filhos e filhas dispostos ao bem e ao amor.
Lindos frutos para todos neste dia!
Pe. Jean Lúcio de Souza