O texto de hoje, do livro dos Números, apresenta vários momentos: o envio por Moisés dos exploradores à terra prometida e a respectiva exploração, o regresso dos exploradores com os frutos e a narração do que viram; o medo entre o povo, provocado pelos exageros da narração; as lamentações do mesmo povo e o reacender das saudades do Egito, indicativos da falta de confiança em Deus e nas suas promessas. Moisés, todavia, mantém-se fiel ao Senhor, aponta ao povo a terra prometida e os seus frutos, e pronuncia as palavras-chave desta narrativa: “Se a boa vontade do Senhor está conosco e nos fez sair para esta terra, Ele nos dará a terra onde corre leite e mel! ... O Senhor está conosco. Não temais!” (14, 8s.). Moisés confia na fidelidade de Deus, apesar do panorama obscuro descrito pelos exploradores. Assim, devemos agir: manter a fidelidade a Deus e a confiança n´Ele. Com a ajuda de Deus, a gente vence as dificuldades e chega lá.
No Evangelho, a mulher cananeia, é destacada como uma mulher pagã, não judia, em referência à Jesus, que inicialmente se mantém em silêncio ao seu pedido, porque a sua missão teria por alvo unicamente o povo judeu. Para Mateus, Jesus fez uma exceção diante da grande fé da mulher. O encontro entre Jesus e a mulher cananeia anuncia, e já realiza, o encontro entre a salvação e o paganismo. Sem negar a escolha preferencial de Israel, “filho primogênito” (v. 24; cf. Os 11, 1; Mt 10, 5ss.), a missão salvífica de Jesus é dirigida a todos os povos. Será, também essa, a característica da ação da Igreja, por mando específico do seu Senhor e Mestre (cf. Mt 28, 18-20). A luta que a mulher cananeia trava com Jesus, para alcançar o que pede, é um exemplo concreto do que Jesus mandou: “Pedi... procurai... batei...” (cf. Lc 11, 9). A confiança ilimitada da mulher cananeia dá-lhe coragem, dá-lhe atrevimento para se dirigir ao Senhor e pedir o milagre. Deus apenas aguarda de nós a fé e a esperança, para nos dar tudo quanto precisamos. As provações da vida, em vez de nos desanimarem, devem acender em nós uma esperança cada vez maior.
Mantenho-me confiante e fiel a Deus, mesmo quando os desafios e provações que enfrento parecem enormes? Acredito, piamente, que Deus está comigo e que Ele não me abandona? À semelhança da mulher Cananéia, sou perseverante na oração, na súplica feita a Deus?
Senhor, como é bom saborear, desde já, tudo quanto nos prometes. Como é bom encontrar na vida os sinais da tua presença, na certeza de que a esperança não desilude, porque infundiste no nosso coração o Espírito Santo, penhor dos bens futuros. Que eu creia sempre, Senhor, no teu amor presente e providente. Que os meus desejos gerem em mim uma fé maior, uma fé como a da mulher cananeia. Que as provações sejam para mim motivos de esperança. Que a incompreensível recusa por ti das minhas orações, algo que a princípio machuca os meus desejos, a minha vontade, purifique e renove a audácia de acreditar no teu amor e, perseverante, continuar a te suplicar. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago