Na primeira leitura, uma vez desaparecido Moisés, Deus continua presente no meio do seu povo, prosseguindo a obra da salvação, agora com um novo líder, Josué, que introduz o povo na terra da promessa. A entrada de Israel na terra prometida é descrita como uma solene procissão litúrgica, em que a Arca da Aliança, lugar da presença de Deus no meio do povo, ocupa o lugar principal. É sempre Deus fiel que precede e acompanha o seu povo. Ele fala a Josué como antes falava a Moisés e este transmite ao povo o que o Senhor lhe diz. Diante da terra prometida repete-se o que aconteceu quando o povo atravessou o Mar Vermelho. As águas se detiveram e o povo, acompanhado da Arca da Aliança, passa o rio Jordão a pé enxuto. A intervenção miraculosa de Deus marca, de um lado, a saída do Egito para a liberdade e, de outro, a saída do deserto para a terra onde “corre leite e mel”. É esse mesmo Deus quem nos acompanha hoje, tendo-nos libertado em seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele nos acompanha em nossa travessia para a “terra onde corre leite e mel”, ou seja, para a Jerusalém celeste. Ele é o Emanuel – Deus conosco.
No Evangelho, depois de ter falado do modo como a comunidade deve tratar os irmãos pecadores e da necessidade de os voltar a ganhar, bem como da oração comum, Jesus agora trata do comportamento que deve ter quem se sentir pessoalmente ofendido pelos outros. O judaísmo já conhecia o dever de perdoar as ofensas. Mas tinha elaborado uma espécie de "tarifário", que variava de escola para escola. Assim compreendemos a pergunta de Pedro a Jesus: queria saber qual era o seu tarifário, se era exigente como a escola que exigia o perdão até sete vezes (18, 21). A resposta de Jesus é dada em fórmula de parábola, que liberta o perdão de qualquer tarifa, para fazer dele o sinal da presença do Reino na terra. A parábola apresenta a figura de um rei e do seu devedor, que lhe devia dez mil talentos e de outro que devia a este um valor menor. A desproporção entre os dez mil talentos e os cem denários realça as diferenças entre as concepções humanas e divinas da dívida e da justiça. Finalmente, também a pena aplicada ao servo, que durará até que tenha pago tudo, lembra o suplício eterno. A chave de leitura e de compreensão está no último versículo: “Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração” (v. 35). Deus nos perdoa se também nós soubermos perdoar. Mas, enquanto a nossa capacidade de misericórdia é limitada, a de Deus é infinita. Precisamos aproximar da misericórdia de Deus a nossa misericórdia para com os irmãos e irmãs, porque Deus é extremamente generoso conosco. Se acolhermos o dom de Deus, não há dificuldades que o amor não ultrapasse. Mesmo perdoar até setenta vezes sete.
Sinto que Deus está e caminha comigo? Deixo-me guiar por Ele, acolhendo seus preceitos, seus mandamentos? Tenho misericórdia das pessoas? Sou capaz de perdoar, como Deus me perdoa sempre?
Senhor, sinto uma imensa necessidade de, cada dia, repetir o pedido do Pai-nosso: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Ferido pelo pecado, meu coração se mostra endurecido, com dificuldade em perdoar aos nossos irmãos e irmãs. Infunde, Senhor, em mim a tua misericórdia, o teu Espírito Santo, para que eu seja curado, redimido dos meus pecados e viva como criatura nova, capaz de perdoar, de amar e ser amado. Faz de mim, Senhor, profeta do teu amor e servidor da reconciliação. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago