As multidões estão por aí ainda, não é mesmo? Multidões de um vasto mar na Seara do Senhor. Gente de todo tipo e de todo jeito. Gente daqui e de lá, gente que de lá vem pra cá. Gente “assim”, gente “assado”, como diz a sabedoria do nosso povo. Certo é que gente não falta! Oh “mundão velho sem porteira” que virou mar pela fé e que carece de uma pescaria robusta para o Senhor.
Quando vejo Lucas nos apresentando essa narrativa imagino a cena, aquela grande multidão que vinha ao encontro de Jesus, cheios de esperança, desejosos de ouvir o Senhor – como a terra sedenta e sem água. Porém, de outro lado observamos seus pescadores chegando da noite da desilusão da pescaria, estão chegando daquele labor cotidiano sem frutos, sem esperança, acredito que, por essa razão, estivessem um pouco alheios à presença de Jesus.
Ele se adianta e pede gentilmente uma das barcas.
A barca pode ser de Pedro, mas não passará do lugar da desesperança se Jesus não subir nessa barca. Dali Ele fala e exorta as pessoas, fala com elas sobre as coisas de Deus, inspira-as. Jesus saiu da sinagoga e foi para a margem do lago, um vasto mar, vasto mundo, não há mais a ilusão platônica da caverna... Não há púlpito, há uma barca de pesca, do trabalho cotidiano no mar da vida.
Depois de falar sobre as coisas de Deus ao povo, então, o Senhor toma uma decisão interessante, ou seja, Ele decide pescar... e pescou para ensinar a Pedro, Tiago e João.
As falas icônicas de Jesus, muito conhecidas entre nós, se ligam a um contexto vocacional profundo. Elas são impecáveis, como sempre, embora usadas muitas vezes para fazer uma menção à vocação sacerdotal ministerial, estão antes, e muito antes, ligadas a uma vocação comum a todos nós que emerge do batismo.
Se o mundo é esse vasto mar de possibilidades na pescaria, onde estarão os pescadores e pescadoras? Se a vocação à missão é dom comum a todos os batizados, significa que essa motivação vocacional destinada, naquele momento, a Pedro e aos seus companheiros, aplica-se a todos que estão dentro desta barca, aplica-se a todos os batizados e batizadas. Todos somos chamados a sempre avançarmos para águas mais profundas e lançarmos as redes, mesmo em meio às desilusões eclesiais: não tenham medo!
Renovados pelo Dom de Deus somos transformados em pescadores de pessoas, homens e mulheres de todas as raças, línguas e nações, que na liberdade, nunca na opressão, aderem ao Cristo e seu Evangelho.
Lembro-me do Papa Francisco (Pedro), aprendeu bem essa lição, ele nos exortou durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa da seguinte forma:
“Amigos, gostaria de ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há lugar para todos, para todos. Na Igreja ninguém é excedentário, ninguém é excedentário, há lugar para todos. Tal como nós somos. Todos nós. E Jesus di-lo claramente quando envia os apóstolos a chamar para o banquete do Senhor que o tinha preparado. Ele diz: “Ide e trazei todos: jovens e velhos, sãos e doentes, justos e pecadores. Todos. Todos. Todos. Na Igreja há lugar para todos. Padre, mas eu sou um miserável, sou uma miserável, há lugar para mim? Há lugar para todos. Todos juntos, cada um na sua língua... cada um na sua língua repita comigo: todos, todos, todos. Não consigo ouvir, repitam: todos, todos, todos”.
Se há lugar para todos, precisamos ouvir com a intensidade da alma e do coração: lançai as redes em águas mais profundas... todos, todos, todos que já estamos por aqui somos pescadores nessas águas mais profundas deste vasto mundo de meu Deus!!! Ouçamos o Senhor que nos chama a sermos pescadores e não juízes dos peixes. Ele nos chama a ser seus discípulos e na Igreja ocupa esse espaço. Na Igreja não somos juízes. Somos operários da messe. Somos pescadores, porque antes de tudo, um dia estivemos lá no mar aguardando o encontro com o Senhor, nossa Esperança.
Pe. Jean Lúcio de Souza