Mês passado nossa Paróquia do Sagrado Coração de Jesus foi convidada a celebrar com a Comunidade Paroquial de Nossa Senhora da Glória em Passagem de Mariana. Fomos, com a graça de Deus, muito bem recebidos e fiquei muito feliz com nossa participação naquela novena preparatória para a Festa de Nossa Senhora. Tudo foi muito bonito, mas não posso negar, uma coisa me chamou a atenção o povo passagense cantando o hino de Nossa Senhora da Glória: simplesmente uníssono e lindo, um canto ensaiado cuja regência histórica se dá pelo amor filial à Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa.
Agora em setembro, dia 02, houve uma apresentação lindíssima da Filarmônica de Minas Gerais em Ouro Preto. Posso dizer que foi um daqueles momentos onde a arte da música toca as estruturas sensíveis da comunidade que se deixa encantar frente, não ao espetáculo proporcionado, mas frente à docilidade e quietude que tudo isso pode levar o ser humano. Ato comum e síncrono, de um lado a filarmônica de Minas Gerais, doutro a filarmônica de corações e ouvidos.
Outro evento que tenho observado em nossas comunidades refere-se ao canto dos salmos e a oração do Pai-Nosso. Quanto melhor cantado o salmo, mais a comunidade torna-se orante. Quanto mais conturbado o salmo, mais dispersa se torna a comunidade. Igualmente a oração do Pai-Nosso: rezemos JUNTOS a oração que o Senhor continua nos ensinando. Acho que algumas pessoas não entendem o que quer dizer juntos e disparam na frente com seu recital desarmônico quase forçando os demais a seguirem o seu ritmo, pobres almas. Contudo, se o sentido do rezar juntos é compreendido, sentimos que a comunidade se comunica com o Eterno de maneira filial e responsável. Isto é bom e agradável ao Senhor!
Bom, vocês devem estar se perguntando o motivo dessas digressões neste domingo. Explico.
No final do pequeno trecho do Evangelho de hoje escutamos o Senhor dizendo: eu vos digo se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles.
Queria que todos entendessem que a tônica deste domingo está aqui e não naquele som repetido e adorado por separatistas e gente de mau coração: se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público, surgindo de plano o desejo de separações, condenações e excomunhões.
Qual é o real desejo de Deus? A separação? Que se percam os pequeninos? Ficar com as noventa e nove ovelhas e esquecer a que se perdeu por aí? Óbvio que não é esse o desejo de Deus, Seu desejo é antes o da unidade, da misericórdia e do perdão... até 70 vezes 7. Mas então o que Jesus quer dizer com o texto de hoje?
O conjunto “de acordo”, estar “concordes” lembra-nos de “consentir”, sentir junto, ter os mesmos sentimentos. O sentido pleno de syn-fonein, como nos ensina Sandro Gallazzi. Desse conjunto nasce a palavra sinfonia, um som orquestrado e bem ouvido, sentido, de modo comum e encantador. Um sentir por todos e por todos executado. O canto do hino de nossa Senhora, a Filarmônica e o povo na praça, o salmo bem cantado, o Pai-nosso rezado JUNTOS, significam a harmonia do querer comum que está em sintonia com Deus no desejo de que ninguém se perca, que a ovelha seja encontrada.
Se alguém pecar é obrigação da Assembleia rezar “uníssona”, um mesmo som – Pai, perdoa nossas dívidas como perdoamos nossos devedores – é preciso que os joelhos estejam dobrados ante todas as situações de dor e sofrimento que surgem do pecado humano e contemplando o Eterno na humanidade, sair em busca da ovelha perdida, em socorro dos pequeninos e fragilizados 70 vezes sete.
Jesus diz: vai ao teu irmão ou irmã. Mas não diz quantas vezes. Ele diz para irmos e não contabilizarmos a quantidade de vezes – insiste oportuna e inoportunamente – ir ao encontro do caído, não para massacrá-lo ainda mais, mas para ganhá-lo para o Senhor. As testemunhas batem o joelho no chão antes de ir e rezam em comum acordo, num só desejo, o desejo de ligar e não de desligar. O desejo de fazer-nos cada vez mais de Deus, pescadores de homens nos tornamos em Cristo.
A Igreja-Mãe orante, num só desejo e numa só esperança no Senhor, não deseja que se perca ninguém, ela também vai, desce às realidades de dor e sofrimento, ela não monta um tribunal de inquisição, ela se apresenta materna, com o desejo do resgate e da esperança e ela diz: nós precisamos de você, queremos você aqui, não queremos o número, queremos a família reunida... desligar? Não, não queremos.
O nosso som sempre será: para que todos sejam um, com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Pe. Jean Lúcio de Souza