Lucas, neste dia, apresenta o discurso das bem-aventuranças em contraponto ao lado do discurso dos "ais".
O que isso pode significar? Bom, se olharmos para as cenas anteriores, que formam a moldura desse discurso, podemos entender melhor o que o Evangelista quis comunicar.
No dia 11, segunda-feira, Jesus ensina a realidade urgente de sempre fazermos o bem e salvarmos a vida humana quer seja dos limites físicos, espirituais ou éticos, promovendo a inclusão da pessoa humana. O cristão não deve se questionar se deve ou não fazer o bem ou salvar a vida, a resposta já está posta, seguir Jesus é aderir a essa realidade. Aqui Jesus faz frente ao legalismo furioso, destrutivo e irracional dos fariseus que optam, naquele momento, pela morte e destruição. Jesus não os teme, Ele cura e liberta.
No dia seguinte a Liturgia da Palavra nos mostra Jesus ensinando novamente aos discípulos. Nenhuma realização fora da intimidade com Deus poderá ser fecunda. Agir fazendo o bem e salvando vidas é princípio primordial para o discipulado, contudo, isso só poderá se dar na intimidade e oração diante do Pai, na graça do Espírito Santo. Logo após a inserção dos discípulos na escola da espiritualidade do Mestre Jesus, Ele mesmo irá inserir os escolhidos no trabalho da messe. Os enviados (apóstolos) têm que promover o bem, garantir a vida e a libertação no meio dos desprezados e excluídos do sistema religioso e sócio-político. Jesus é a força do povo.
Hoje o discurso apresenta a dicotomia entre aqueles que estão próximos de Jesus naquele momento e que se sentem feridos, machucados, sem quaisquer perspectivas em suas vidas. O universo religioso e social os exclui cada vez mais e mais. A eles Jesus se dedica.
A grande multidão vem a Jesus. Os discípulos observam tudo e, com certeza, devem se encantar e assustar, misto da realidade que vivem, acolher aqueles que a sociedade não quer acolher.
Nesta grande multidão há os “de dentro de casa” os que conheciam o Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Há os pagãos da região de Tiro e Sidônia que queriam conhecer Jesus e ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó, que, na voz do Cristo, seria o Pai de todos nós! Jesus não os despreza.
Eles querem ouvir, querem ser tocados, Jesus se permite tocar, todo tormento é desfeito e a esperança é devolvida.
Essa é a Seara dos enviados, dos discípulos. Essa é a messe, o lugar do lavoro.
Aí Jesus diz que os pobres que hoje são desprezados serão consolados e devem ser consolados pelos discípulos, pela Assembleia, por aqueles que professam a fé no Messias o Filho do Deus Vivo. Jesus ensina que os famintos devem ser saciados e não esquecidos pela comunidade dos Cristãos, não importando se professam a mesma fé, pagãos e crentes devem ser saciados nas realidades sociais e eclesiais com o pão material e a Eucaristia.
Aqueles que padecem suas dores e choram vitimados pela exclusão social e eclesial devem ser acolhidos e devem sorrir na esperança do Evangelho que se torna operante a partir da vida dos Apóstolos. Por fim, serão perseguidos e não elogiados. Parafraseando o Papa Francisco – uma Igreja que se feriu pela missão é mais bonita que uma Igreja que se manteve bela em suas vestes e brancura atada ao comodismo dos elogios e beleza.
Sigamos firmes, coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza