Caros irmãos e irmãs, que episódio fantástico nos apresenta Lucas sobre a vida do Verbo Encarnado que habita entre nós! Uma vida que partilha e comunica a Vida. Muito há contido neste texto, e um ponto liga-se a outro de modo impressionante.
A Comunidade de Lucas é perspicaz!
A cena está circulando, inicialmente, sobre dois tipos de morte: a de uma mulher que se tornou mãe, viúva e agora solitária, pois sem filho e sem seu marido e a morte do único filho daquela mulher.
Bem sabemos o “valor” de uma mulher na época de Jesus, elas eram totalmente dependentes da figura masculina, quer seja seu pai, irmãos, marido ou filhos, que lhe haveria de respaldar segurança e proteção.
Para esta mulher presente na narrativa de Lucas, estar só, sem seu marido e sem o filho homem que garantisse todas as possibilidades de proteção significava uma morte social. Seria, bem provável, vilipendiada em seus direitos (ínfimos na época). Mas, há também, a morte no coração, ela havia perdido seu filho querido, ente que estreitou em seus braços dando-lhe a vida na expectativa da história familiar, estreitando os laços do afeto e maternidade que fogem de todo raciocínio humano.
Entretanto, mesmo que o enredo inicial mostre a morte como pano de fundo para a dor e o sofrimento humano e social, não se pode negar que a perspectiva muda com a chegada de Jesus, o Filho do Deus vivo, que comunica a todos a vida em abundância: a vida se encontra com os símbolos de morte simbolizados no choro, na solidão. Os que estão próximos tentam oferecer um consolo que não consola. Há um “ir” se despedindo de quem se ama... levavam, embora daquela mãe, um defunto, tão frio e longínquo agora, levavam seu filho único, o rebento de sua linhagem e sua proteção...
Quando o Senhor chega, observa e se move em compaixão. Ele percebe que os sinais de morte iriam se prolongar ao sepultamento daquele que morrera. O gesto de Jesus é muito interessante, Ele olha para a mulher e devolve a esperança – “não chores!” – que esperança haveria atrás deste imperativo? O que aquela mãe estaria pensando, parar como Senhor? Minha esperança e alegria estão mortas nesse esquife e levam-nas de mim.
A mulher ainda não conhecia Jesus, acredito. A Vida estava ali e a Vida, somente Ela, pode deter a morte e verdadeiramente a detém.
Quando Jesus aproxima-se duas atitudes são notáveis: toca o esquife e os que o conduziam param. A Vida segura, paralisa, invalida a morte. Pare!
Como nos ensina São Cirilo: nosso Senhor realiza o milagre não apenas com a palavra, mas também tocando o esquife, para que reconheças como é eficaz o sagrado corpo de Cristo para a salvação humana: é, afinal, o corpo da vida e a carne da Palavra onipotente, cujo poder lhe pertence. Pois assim como o ferro unido ao fogo produz os efeitos do fogo, assim a carne, unida ao Verbo que vivifica tudo, torna-se também ela apta a vivificar e expulsar a morte.
Assim como Jesus acalma a tempestade e os ventos furiosos, Ele obriga à morte: silêncio, cala-te! Ela não pode nos devorar frente a Jesus.
Estando de pé o jovem que morrera este imediatamente coloca-se a falar. Se a morte o obrigava ao silêncio fúnebre, a Vida devolve-lhe a potência da voz que diz sobre os louvores ao Deus Vivo e Verdadeiro que vence a morte – sustenta-me, conforme a Tua promessa, e eu viverei, não deixes que minha esperança me envergonhe (sl. 119,116) – assim Jesus antecipa os sinais da ressurreição. Caríssimos, confiemo-nos ao Senhor Deus da vida, Ele é bom e cuida de nós!
Pe. Jean Lúcio de Souza