Que parábola fascinante!
Mais uma vez Jesus desconcerta nossos pensamentos e o entendimento acerca da fé, de tal modo, que, o dito cristão “os últimos serão os primeiros”, nos faz pensar sobre nosso compromisso com a edificação do Reino de Deus a partir de nossos irmãos e irmãs.
A parábola também quer evocar sobre nossa necessária relação com o Pai de todos nós, cuja régua e medidas não são ajustáveis ao nosso entendimento.
É preciso começar sempre pelos últimos... É preciso observar não quem chega, mas ter os olhos fixos nas mãos de nosso Senhor e ver como Ele age, como Ele faz, para que nossa ação seja perfeita como a Dele. Ele não quer desligar ninguém, todos devem estar ligados a Ele, tal qual os ramos na videira, que recebem do Senhor o dom da vida, não como pagamento, mas como animados participantes na vida do Senhor.
Assim, somos convidados a entender que o ato de servir não deve ser posto na ótica do “merecimento”, não há uma “troca”, eu sirvo para ser salvo, como se fosse uma garantia em vista dos melhores lugares.
Para o Teólogo Sandro Gallazzi, merecimento equivale a meretrício, serviço como prostituição, um universo impróprio para os que creem e entram no serviço da messe. Se construímos essa ideia, colocamos Deus numa condição terrível em nossa vida de fé, um Deus que “paga” pelos serviços do meretrício. No mínimo desconcertante tratarmos Deus desta forma!
Ele assevera: ao estabelecer com Deus uma relação baseada no merecimento, e na retribuição correspondente, nós construímos um Deus à nossa imagem e semelhança, um Deus sob controle, um Deus que não nos incomoda.
Por isso, devemos buscar uma melhor compreensão e entendermos com o profeta Isaías: meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, vossos caminhos, não são como os meus caminhos, diz o Senhor.
O jeito de Deus agir deve dar um “up” em nossas vidas, para que nossa conduta seja a do resgate, sobretudo daqueles da última hora, dos mais pobres e perdidos pelo caminho. Não somos os donos da “casa”, somos operários que aprendem com o seu Senhor a terem bons olhos para com a realidade humana e não olhos invejosos e de condenação constante.
Deus observa tudo de um modo bem diverso ao modo como nós observamos. Deus é um revolucionário, um anarquista com causa definida, ou seja, a revolução do coração humano. Deus quer subverter nossa moral financista, moral de mérito, de retribuição.
Por vezes, mesmo que em devaneios solitários, gostamos de ver a pessoa má “perdendo”. Podemos gostar, quem sabe, de ter a ideia de que o “não crente” não irá para o céu, porque não crê como cremos. Gostamos de ter a sensação de olhar para trás e ver que na fila estamos lá na frente (porque fazemos muito, trabalhamos muito, coordenamos tudo), e esses ou aqueles outros desocupados, nem na fila estão.
Pobres de nós, nem fila há!
“Ficamos desorientados e irritados como Jonas quando vemos que o pecador não é destruído, mas perdoado. Por isso ficamos com raiva como o filho mais velho ao ver o pai dar uma grande festa para o filho moço que tinha saído de casa e desperdiçado toda herança recebida. Por isso ficamos escandalizados como os fariseus ao ouvir Jesus dizer que veio para os pecadores e não para os justos.”
Ah irmãos e irmãs se entendêssemos o tal descer com a toalha amarrada na cintura. Se entendêssemos que quem serve apenas se abaixa para lavar os pés de todos, sobretudo dos últimos, os mais desorientados que caminham pela vida.
No final perceberemos que tudo só faz sentido quando o lavoro não é para o pagamento pessoal, mas para a edificação de todos, para construção do Reino de Deus, para edificação da Ekklesia, desta casa comum onde Deus, não é o chefe que paga, mas onde Ele é o Pai que acolhe a todos pelo caminho.
Ele resgata a todos, liga todos a Ele mesmo. É o Pai Misericordioso que sai pelo caminho buscando os perdidos e desvalidos, buscando os últimos, para que todos estejam dentro de Sua casa.
Lembremo-nos que Deus é Bom e Ele cuida de nós, Ele sempre vem ao nosso encontro quando perdidos e desvalidos. O dia não terminará sem seu olhar para todos: venham trabalhar, venham viver, venham para casa...
Pe. Jean Lúcio de Souza