Dentro do templo, que há de mais encantador?
Moramos em uma região cujo encanto de nossas igrejas, enquanto lugares do culto sagrado, possuem uma forma de se dar ao povo cristão católico e demais estudiosos e curiosos um fascínio interessante.
Dizem sem reservas: Ouro Preto e Mariana, cidades de grandes igrejas barrocas, de ouro e prata, talhas rebuscadas de artífices conhecidíssimos e outros anônimos, porém de boa qualidade em sua fatura.
Falamos em Francisco Vieira Servas, falamos em outro Francisco, o Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), lembramos do grande Manoel da Costa Ataíde, Francisco Xavier de Brito. Evocam-se o tempo de construção, a forma e as técnicas.
O canto, o coro dentro da Liturgia Católica dos séculos passados: o latim... Ah esse latim que vai e volta no consciente de homens e mulheres, jovens e idosos.
Os sinos, um maravilhoso e verdadeiro escândalo sonoro que anunciam o tempo em quaisquer que sejam suas ordens de manifestação: as mortes dos irmãos e bispos, anunciam festividades que iniciam e findam, anunciam o natal do Senhor, sua paixão e ressurreição.
Mas mesmo assim, às vezes tudo é tão escuro, frio, com cheiro de mofo, carecendo, dia e noite de novos e contínuos restauros físicos e existenciais.
Há também as novas e modernas edificações com aparência de assépticas e quase intocáveis, grandes blocos de pedra onde se assenta e se ora, cujas esquadrias são bem medidas, de mil vidros multicores, novas pinturas e técnicas, um novo padrão físico que evoca novos padrões existenciais. Já não se fala em Aleijadinho ou Servas, mas agora lembra-se de Cláudio Pastro, Júlio Quaresma, Apostolado Litúrgico, novos seres experimentados nas técnicas e orientações litúrgicas bem regulares ao Vaticano II, ou pelo menos se tenta isso.
Tudo pode ser lindo, mas ainda ecoa a pergunta: dentro do templo, que há de mais encantador?
As pedras vivas! Sim, as pedras vivas que compõem o templo, cada pessoa, cada irmão e irmã, cada crente, daqui ou de lá, nada mais belo que o som que ressoa nas vozes que cantam louvando ou lamentando. Nada mais encantador que a profissão de fé viva que se materializa na vida operante de cada crente. Tudo sempre bem iluminado, pela luz que trazemos em nosso peito que recebemos como dom em nossos batismos: sejam luz do mundo!
Todo homem, toda mulher, quer seja idoso, adulto, jovem ou criança se tornam expressão do encanto dentro da comunidade eclesial no tempo presente.
Fazendo uma junção entre a expectativa do belo templo a ser construído em Esdras e o conceito de luz que o Senhor mostra no Evangelho, podemos sim entender algo fascinante: podemos ter os mais estéticos e encantadores templos edificados com pedras, concreto e madeira, mas serão vazios e frio, mofados e obsoletos se, dentro desses templos não formos a luz que ilumina a vida em nossas comunidades.
Nossa fé, que brota do Evangelho, é uma fé luz. Não foi feita para ficar escondida ou presa. A fé que recebemos, o Evangelho que ouvimos, a Eucaristia da qual nos alimentamos é a luz que torna o amor de Deus conhecido entre os irmãos e irmãs ligando todos ao Mistério do Senhor.
Ele se manifesta ao mundo também através de nós. Cada irmão ou irmã é chamado a iluminar as trevas que houver escondendo as dores humanas e sociais para que possamos como bons samaritanos curar e aliviar essas dores com óleo da graça de Deus e iluminar novos caminhos com a Luz do Cristo em nós.
“Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” Sl. 94 – fechar nossos corações para não ouvir a voz do Senhor obscurece a vida e a torna infértil. A Palavra de Deus é sempre lâmpada. A Luz que nos foi entregue é o Evangelho, a Palavra de Deus, que ilumina nosso caminho e deve ser cada vez mais intensa e, tanto mais o for, mais iluminará, portanto, ouvir o Evangelho é deixar-se iluminar para iluminar o mundo.
Pe. Jean Lúcio de Souza