A Igreja, acolhendo uma tradição que vem do século XI, dedica o dia 2 de novembro à memória dos fiéis defuntos, rezando em sufrágio dos "irmãos que adormeceram na esperança da ressurreição". Renovemos, também nesse dia de saudade e de esperança cristã, nossa fé na Ressurreição dos mortos e na vida eterna. As almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém.
Na primeira leitura, Jó, no meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e traspassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor. Ele sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Jó afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.
O Apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, afirma que podemos ter esperança diante da morte. Deus é, de verdade, o nosso Redentor. Ele nos ama. Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De fato, nós éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como "seus", e morreu por nós arrancando-nos da morte eterna. Acolhemos esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo.
O centro do Evangelho de hoje é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos, pela mediação de Cristo, para que ninguém se perca (v. 39). Para acolher esse desígnio, é preciso o livre consentimento da fé, ou seja, acreditar no Filho que tem, desde já, a vida eterna; aderir Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode nos levar para além do limite da morte.
Reconheço que Deus é o meu refúgio e o meu libertador? Acredito na ressurreição dos mortos e na vida eterna? Vivo semeando o bem para um dia colher os frutos da vida eterna? O que tenho feito para que esse mundo seja melhor? Rezo, com frequência, pelos mortos, para a sua felicidade plena junto de Deus, na glória do céu?
Senhor, quero hoje rezar por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dá o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor. Descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz, Senhor. Vivam no teu amor aqueles que amaste. Não esqueças o bem que me fizeram, o bem que fizeram a outros. Esquece o mal que praticaram, risca-o do teu livro. Aos que passaram pela dor e pela morte, revela, com o teu rosto, os segredos da tua justiça, os mistérios do teu amor. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago