Na primeira leitura, iniciamos a reflexão sobre o livro da Sabedoria que foi provavelmente escrito em meados do século I a.C. O autor começa por se dirigir aos reis da terra, mas, no fundo dirige-se a todos quantos querem participar no dom da sabedoria. “Amai a justiça” (v. 1) é o primeiro convite. Amar a justiça implica a conformidade total, de pensamento, vontade e obras humanas, com a vontade divina, tal como ela se manifesta nos preceitos da Lei e na voz da consciência. O justo é sábio, mas o ímpio é insensato. Os insensatos não acreditam e tentam pôr Deus à prova (v. 2ss.). Os seus “pensamentos perversos” levam à morte (Sb 1, 16) mas os da sabedoria conduzem à vida. A sabedoria é amiga dos homens (v. 6). Ela nos ensina o caminho para chegarmos a Deus e para estabelecermos uma relação correta com os outros.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, Sabedoria de Deus, simultaneamente severo e indulgente: “Ai daquele que causa escândalos! Melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar... Se o teu irmão te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: 'Arrependo-me', perdoa-lhe.” (vv. 1-4). Ao longo da nossa vida, é frequente nos deparar com situações que exigem atitudes opostas. Nem sempre é fácil fazer um discernimento correto sobre a atitude a tomar. Muitas vezes, o mais espontâneo é assumir atitudes exatamente opostas àquelas que o Evangelho nos recomenda. Somos naturalmente indulgentes conosco. Quando provocamos escândalo, nem sempre nos damos conta disso. Mas, se nos dermos conta, facilmente nos desculpamos, dizendo que, afinal, não há motivos para escândalo. Mas, quando se trata dos nossos interesses, tornamo-nos muito severos. Se alguém nos ofende, achamos que se trata de uma enormidade, que naturalmente não podemos, nem devemos tolerar, nem perdoar. Também é fácil julgarmos, como coisa de pouca importância, aquilo que o Senhor julga com severidade. Pelo contrário somos severos com coisas que Ele olha com indulgência. Peçamos ao Senhor o dom da sabedoria para julgarmos corretamente, segundo os seus critérios, os critérios do amor.
Deixo-me conduzir pelo Espírito Santo ou pelo espírito do mundo? Busco a sabedoria, no desejo de caminhar no caminho de Deus? Qual é o “tamanho” da minha fé? Em que a Palavra de Deus mais me ajuda hoje?
Senhor, Pai santo, infunde no meu coração a tua sabedoria divina, que ela lance na minha vida a luz reta da tua palavra e afaste as luzes enganosas das minhas inclinações naturais. Aumenta, Pai santo, a minha fé, para que possa conhecer-me verdadeiramente e conhecer-Te, para que eu possa conhecer o amor e a misericórdia d´Aquele que veio, não para os justos, mas para os pecadores e que nos ensinou a amar a todos, até aos nossos inimigos. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago