O autor, na primeira leitura, desenvolve a personificação da Sabedoria, fazendo-lhe o seu elogio. Descreve-a servindo-se da sucessão de vinte e um atributos (vv. 22s.), número simbólico que exprime a perfeição absoluta, enquanto é obtido pela multiplicação de sete (número da perfeição) por três (número da plenitude). No Novo Testamento, alguns releram essas características, atribuindo-as a Cristo, o “Verbo” de Deus. O autor evidencia a origem e a natureza divinas da Sabedoria. Os termos sopro, irradiação, reflexo exprimem, mesmo que com diferentes acentuações, a origem e a consubstancialidade a Deus, enquanto os termos espelho e imagem indicam a identidade da natureza, na distinção. Por fim se fala da atividade da Sabedoria, seja na formação de “amigos de Deus e profetas” (v. 27), seja na criação, renovação e governo de tudo “com bondade” (8, 1). O “espírito de sabedoria” (Is 11, 2), na teologia posterior, informará a ação de Cristo. A nossa própria existência, iluminada pelo escândalo da cruz, será apontada como “sabedoria de Deus” (1 Cor 1, 24.30). A sabedoria é, pois, uma luz intelectual, que penetra todas as coisas, mas também luz espiritual, que é muito mais, pois dá o verdadeiro conhecimento às pessoas, ou seja, as põe em relação com o próprio Deus.
No Evangelho, temos um breve, mas intenso, ensinamento de Jesus, provocado por uma pergunta dos fariseus acerca do tempo em que virá o Reino de Deus. Diante da miopia espiritual e dos interesses egoístas dos fariseus, Jesus não apenas satisfaz as curiosidades deles, por vezes também as nossas. Ele começa por se exprimir de modo negativo, para que não caiamos em ilusões, mas aprendamos a discernir situações e pessoas que possam tirar a nossa atenção ou desviar o foco da nossa fé. Como verdadeiro mestre, Jesus nos alerta para possíveis desvios e indica o caminho que devemos seguir. Aqui, temos duas afirmações de Jesus, importantes para a nossa caminhada de fé, na perspectiva do Reino de Deus. Primeiro, Ele fala do desejo de quem se marca na fé em “ver um dos dias do Filho do Homem” (v. 22). Diz que assim vai se dar e que é Ele mesmo quem vai nos satisfazer na realização desse desejo. Depois, Jesus afirma a necessidade de “primeiramente, ter de sofrer muito e ser rejeitado” (v. 25), alusão de que Ele é o Messias e ao modo como se realiza o seu Messianismo para a salvação do mundo e manifestação do Reino definitivo. De fato, antes da escatologia, desta vida plena em Deus, acontece a Páscoa de Jesus. Quem aceitar ir com Ele até Jerusalém e partilhar a sua Páscoa, prepara-se para ir ao encontro final com o Salvador. Esse é o caminho da sabedoria que devemos trilhar.
Deixo-me conduzir pela Sabedoria, dom de Deus, ou me faço resistente a ela, distante dos ensinamentos da fé? Acredito no amor de Deus que me salva em seu Filho Jesus? Como tenho respondido ao amor primeiro de Deus em minha vida? Em que a Palavra de Deus hoje mais me ajuda?
Senhor, dá-me esta água de beber, a água da Tua sabedoria, que brota do Teu divino Coração. Tenho sede dela, desejo-a, peço-a. Dá-me esta sabedoria, quero preparar-me para ela, com pureza de coração e vigilância. Quero evitar todo o pecado e fraqueza que afastam, de Ti, o meu coração. Perdoa-me, Senhor, o passado e ajuda-me no hoje e no futuro a, em tudo, agir com sabedoria, fazer a vossa santa vontade. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago