Na primeira leitura, vemos que, com o domínio dos povos gregos, se alastrou em todo o Israel uma nova cultura e estilo de vida, que se tornou uma ameaça para a Lei judaica, para a observância da Aliança com Deus. O seu agravamento veio quando Antíoco IV Epifânio quis impor essa cultura pela força, conseguindo adeptos entre os hebreus (v. 15). Com um decreto, ele tenta unificar os povos que lhe estavam submetidos, abolindo as suas leis particulares e as suas autonomias: ordenou sacrifícios aos ídolos em todas as cidades de Judá; determinou que os Hebreus não podiam guardar os livros sagrados, mas deviam destruí-los e, mais, quem desobedecesse à lei, devia ser morto (vv. 54-57). Como vemos, houve uma forte reação anti-helênica, ou seja, a essa nova cultura, protagonizada pelos Macabeus. Os fiéis à fé e à tradição hebraica foram perseguidos e vários foram massacrados. Apesar de tudo, muitos se mantiveram fiéis à fé dos pais, seguindo as suas tradições. Somos também chamados à fidelidade à Aliança com Deus e a resistir ao mal, obedecendo antes a Deus que aos homens e poderes deste mundo.
No Evangelho vemos a cura do cego nos arredores de Jericó. Jesus dá atenção àquele homem, que jaz à beira da estrada (v. 40), enquanto a multidão tenta fazê-lo calar (v. 39); O cego começa por chamar a Jesus “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (v. 38). Escutado o seu grito, uma vez curado, sua oração torna-se louvor que se alarga a todo o povo: “O cego seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, ao ver isto, deu louvores a Deus” (v. 43). Podemos e devemos fazer a oração de súplica, não para tentar forçar Deus a nos dar o que queremos, mas para Lhe prestarmos a homenagem de Lhe pedir o que julgamos importante para nós, deixando-Lhe sempre a decisão de nos dar, ou não, o que pedimos, pois só Ele sabe qual é o nosso verdadeiro bem. São duas as condições para que a oração de súplica seja escutada: que estejamos conscientes de que precisamos da ajuda de Deus, como fez o cego, e que tenhamos uma grande confiança. Sem confiança, a nossa oração de súplica pode manifestar apenas desânimo e desespero. É principalmente a confiança que nos alcança os favores de Deus: “A tua fé te salvou” (v. 42), disse Jesus àquele homem que foi curado. A oração é sempre útil, também quando vivemos momentos pessoais ou coletivos difíceis, como os que estamos a passar.
Peçamos ao Senhor que tenha compaixão de nós. Trazemos “muitas cegueiras”.
Sou atento em viver a Aliança com Deus ou deixo-me levar pela “cultura do mundo”? Reconheço que preciso da graça de Deus e confio no seu amor e no seu poder? De que “cegueiras” preciso ser curado? Em que a Palavra de Deus mais me ajuda hoje?
Senhor, bem vês o quanto sou miserável e fragilizado, o quanto preciso de Ti. Creio firmemente que, na tua bondade, terás piedade de mim e irás me curar e curar a situação em que vivo, como de tantos de meus irmãos e irmãs. Creio, Senhor! Escuta a minha oração, para que possa sempre te bendizer e louvar a tua infinita misericórdia. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago