Celebramos hoje a memória de Santa Cecília, Virgem e Mártir. Ela viveu na Itália no século 3º. Dedicou-se à caridade para com os pobres e foi vítima das perseguições do império romano. Durante seu martírio, ela insistiu para que os cristãos não negassem a fé. É invocada como padroeira da música e do canto sacro. Ao celebrar a sua memória, peçamos ao Senhor que nos torne mais fiéis à nossa fé em Cristo e multiplique nosso amor aos necessitados.
Na primeira leitura, vemos o martírio dos sete irmãos e sua mãe, que heroicamente morrem na esperança da vida futura. Estamos ainda no tempo de Judas Macabeu. A perseguição movida por Antíoco IV leva à prisão e condenação desta mulher e de seus filhos. Chamada a convencê-los a que abandonassem as tradições dos antepassados (v. 24), esta mulher não cede, mas exorta e os encoraja à resistência. Sua palavra é uma admirável profissão de fé no Deus da vida: Aquele que misteriosamente plasmou a vida dos seres saberá restituí-la aos que a perdem por Lhe serem fiéis (vv. 22s). É a mais explícita profissão de fé na ressurreição, em todo o Antigo Testamento. A resistência dos mártires irrita o rei, que se volta agora para a mãe para que ela convença o filho mais novo, o único ainda vivo, a apostatar. A mulher dá a entender que faz a vontade ao rei, porque se dirige ao filho em língua hebraica. Na verdade, ela continua a exortá-lo à resistência ao rei e à fidelidade ao Deus da vida. E, mais uma vez, reafirma a fé na ressurreição: “aceita a morte, para que, no dia da misericórdia, eu te encontre no meio deles” (v. 29). É belo ver, a seguir, a corajosa profissão de fé do jovem: “Não obedecerei às ordens do rei, mas somente aos mandamentos da Lei, dada a nossos pais por intermédio de Moisés. Mas tu, que és o inventor desta perseguição contra os hebreus, não escaparás à mão de Deus.” (v. 30s.) O episódio do martírio dos irmãos Macabeus e de sua mãe nos leva a meditar sobre o dom da vida, que recebemos de Deus e que devemos administrar segundo a sua vontade, mesmo que, para isso, tenhamos de perdê-la. Não somos donos da vida, mas simples administradores e dela daremos contas a Deus.
O Evangelho nos diz que Jesus contou esta parábola para aqueles que pensavam “que o Reino de Deus ia manifestar-se imediatamente” (v. 11), e o aguardavam com impaciência, esperando que Deus, finalmente, pusesse tudo em ordem na terra. Mas Jesus lhes faz compreender que Deus não tem pressa, que não quer intervir imediatamente e que, Ele mesmo, o Cristo, não vai assumir já o poder universal. Primeiro, irá fazer uma longa viagem, confiando aos empregados os seus recursos para que pudessem administrá-los. Entre eles, houve quem não os administrou bem: “Senhor, aqui estão as tuas cem moedas, que guardei num lenço, pois tinha medo de ti” (v. 20s.). Se assim fizermos, não corresponderemos à nossa vocação. Precisamos arriscar, usando a devida prudência. De que serve, por exemplo, guardar a fé, se ela não for usada para que outros tomem consciência do projeto de salvação de Deus? O medo de perder a fé não me deve inibir de dar o testemunho dela. Para agradar a Deus, precisamos aproveitar da nossa liberdade, produzindo bons frutos para os irmãos: “Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais” (v. 16). E o Senhor responde: “Muito bem, servo bom; já que foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades” (v. 17). Peçamos ao Senhor a graça de frutificar os dons que d’Ele recebemos.
Vivo com fidelidade a fé cristã, recebida no Batismo? Procuro obedecer antes a Deus que às vozes e poderes deste mundo? Administro bem os dons que Deus me confia? Sou servo bom ou servo mau? Em que a Palavra de Deus me ajuda hoje?
Senhor, livra-me do medo de arriscar e perder, do medo de não estar à altura das minhas obrigações, do medo de fracassar. Nem sou capaz de quantificar tudo que me confiaste. Mas, mais do que ficar a contar os dons, para verificar se ainda os tenho todos, ajuda-me a utilizá-los, com generosidade e responsabilidade, a serviço dos irmãos, a serviço do teu Reino. Dá-me a graça de, a cada dia, cumprir com simplicidade, todos os meus deveres, pequenos e grandes, para que todos sejam felizes, Te conheçam e amem. Ajuda-me a me entregar a Ti, com generosidade e segurança, porque, afinal, és Tu o Senhor da vida. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago