Há uma possibilidade subjacente neste texto do Evangelho de hoje, muito bonita. Essa possibilidade transforma nossa vida em esperança apesar de o alerta de Jesus ser feito frente àquelas cenas tão estranhas de se contemplar: “ficardes de pé diante do Filho do Homem”.
A insensibilidade e a insensatez nos afastam da Palavra que permanece conduzindo e guiando todo povo santo de Deus.
Quando damos asas à insensibilidade, a insensatez invade nossos corações a ponto de roubar-nos a esperança que a Palavra de Deus nos comunica. Elas roubam a capacidade de darmos audiência à Palavra para aderirmos a tudo quanto venha concorrer com a vontade de Deus e, assim procedendo, nos tornamos frios, adeptos da falta de perdão, falta da caridade e da misericórdia.
A gula e a embriaguez são símbolos perfeitos da despreocupação ante a maldade e as cenas pavorosas do escândalo da falta de perdão implantados no mundo de hoje.
A sociedade, por vezes, porta-se como alcoolizada e alienada a todas as necessidades que pedem de todos nós um cuidado maior para com os pequeninos do Reino. Estando enfarados devoramos a esperança dos que nada têm e julgando-nos satisfeitos chancelamos e criamos a pirâmide de classes sociais onde, na base, sempre ampla e cada vez mais massacrada encontram-se os desfavorecidos, os pequeninos, os desprezados pela embriaguez humana.
Para ficarmos de pé diante do Filho do Homem é preciso ouvir a Palavra configurante que nos devolve sempre a graça de permanecermos na presença de Deus enquanto operários na messe. É preciso sairmos deste estado de torpor social, sairmos do estado em que devoramos, sem se saciar, os bens destinados a todos e tão mal distribuídos. Para ficarmos de pé é preciso sairmos do estado de embriaguez que ilude nossos sentidos e afetos com as propostas de descaso com relação ao outro, produzindo o descalabro das guerras, da fome e da miséria humanas.
Renovemos a esperança de podermos ficar de pé diante do Filho do Homem, tendo ouvido sua Palavra que não passa, mas que permanece gerando frutos para a vida eterna.
Pe. Jean Lúcio de Souza