Irmãos e irmãs,
Chegamos ao primeiro domingo do tempo do Advento. As características do verbo “esperar” estarão presentes em todos os domingos, bem como as expressões do “vigiar”, permearão nossas vidas durante as semanas seguintes, até que se conclua o tempo com o a Festa do Natal do Senhor.
Receber os textos sagrados durante esse período com a alegria da espera na fé de quem receberá o que a fé promete deve ser o norte para essas semanas em nossas vidas. Essa espera deve nos alegrar na vigília por comunicar, na esperança, o que aguardamos, ou melhor, quem aguardamos.
Existe uma médica paliativista, muito conhecida atualmente, principalmente entre os bioeticistas estudantes do fim de vida e de médicos (as) que atuam neste campo das ciências, que, atualmente, aventurou-se no universo dos poemas, igualmente os poemas versam, de alguma maneira, sobre a expectativa do fim, ela é Ana Cláudia Quintana Arantes. Dentre alguns bons poemas escreveu um, acredito, nos sirva perfeitamente como roupa de alfaiataria, o poema:
Fé na espera que não te traz o que se espera.
Espera pela fé que te traga o que vale a pena.
Diagnóstico de paciência.
Interessante esse biombo de isolamento que a autora coloca que separa dois entendimentos sobre o mesmo verbo: esperar.
Quando Jesus apresenta a ideia da espera/vigília colocando como exemplo a comunidade (casa) do Senhor que cuida de toda estrutura deixada por Aquele homem que viajou para o estrangeiro percebemos aí duas esperanças que podem ou não se encontrar.
O interessante é quando se casam.
A primeira esperança é a do Dono da casa. Ele possui uma esperança, afinal entrega a administração da casa ao seu pessoal, aqueles que, de certa forma, acredita serem ou estarem maduros para essa tarefa. A casa é “tudo” que possui. Todos estão incumbidos de cuidar desta casa/comunidade/mundo. Ele criou tudo, preparou tudo, com zelo e carinho. Escolhe inclusive seu pessoal. Tudo muito bem delimitado. Há a esperança de encontrar, em Seu retorno, tudo em ordem e todos em paz.
A segunda esperança é a do retorno. É a esperança de quem ficou para cuidar da casa do Senhor. A primeira esperança é certa, é definitiva e irrevogável. Tudo que é do Senhor deve ser retomado por Ele. A segunda esperança pode ser vacilante, por isso Jesus insiste: vigiai.
O problema está na segunda espera. Por vezes, como diz a poetiza médica a –fé na espera que não te traz o que se espera – e aí podem surgir as sonolências. Uma fé que se fundamenta meramente no medo do retorno do Senhor e sua severidade, ou no medo dos fins, limita, não raras as vezes, a beleza de esperar cuidando pelo esperar por obrigação. Uma fé assentada na “mera” espera não nos traz nada além das reclamações cotidianas e as murmurações intermináveis em virtude da “demora” do Senhor e isso, com certeza gera o desânimo, a letargia e com isso o sono. Adormecer, aqui, é símbolo do desistir.
Ao passo que, se lembrando a poetiza – espera pela fé que te traga o que vale a pena – o esperar/vigiar ganha a conotação do “esperar cuidando”. Esperar como quem aguarda a floração de uma flor linda, esperar como quem aguarda, paciente, a hora de saborear um bom vinho, da colheita das uvas à maturação nos barris de carvalho. Esperar como quem espera todos os anos nos ninhos cheios de canários amarelinhos que irão cantar em nossos jardins. Esperar, como quem aguarda paciente o pão que assa no forno e perfuma toda casa, instigando o desejo do café posto à mesa que espera um bom amigo, que chegará trazendo o queijo e todos serão atingidos pela alegria do convívio. Esperar como espera a mãe por seu bebê que nascerá. Esperar, atentos, silenciosos, cálidos até que alguém faça sua páscoa e vá soltando devagarzinho nossas mãos dizendo, com esse gesto de liberdade um: adeus! Esperar como quem zela do mundo, cuida da vida e não permite que ela seja vilipendiada em nenhum momento. Esse é o esperar cuidando, sempre alerta, acordado, feliz, porque nos traz o que vale a pena.
O diagnóstico da paciência, proveniente da qualidade do esperar, resulta na chegada do Senhor que se encantará com a esperança de todos de sua casa que não esmoreceram pela demora, mas ao contrário, cuidaram de tudo, de todos e de si próprios. E tudo estará lindo e perfeito, por dentro e por fora, quando o Senhor chegar e exclamaremos bem alto como perfeito louvor: despertai vosso poder, ó nosso Deus, e vinde logo nos trazer a salvação!
Pe. Jean Lúcio de Souza