Neste segundo domingo do Advento a figura de João Batista está muito presente. Interessante pensar que João assume o importante protagonismo, em virtude de Jesus Cristo. Esse protagonismo, a que me refiro, emoldura e chama a atenção de todos os fiéis quanto ao evento “encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo” e tudo que se liga à missão do Cristo, e à forma como se dará no meio do povo. Alguns aspectos da vida de João são definidores desse norte e devemos estar atentos ao caminho.
Primeiro ponto seria como Marcos situa a cena. Ali do prólogo, a comunidade de Marcos oferece a todos um “motivo renovador”. Quando se escreve “no início”, pode-se trazer a interpretação de uma nova criação, um novo caminho, como se a comunidade que nos escreve quisesse dizer a todos que têm contato com o texto, a expectativa de um novo gênesis. Esse novo caminho, claramente é endireitado, nivelado pelo precursor.
Por isso, logo em seguida, aparece o termo Evangelho (boa-notícia). Dos quatro evangelistas, somente Marcos usa esse termo. Ele confere ao início/gênesis uma boa notícia que configura a comunidade e a faz agir nessa perspectiva, mas qual? O Cristo, o Ungindo, o Messias, o Filho de Deus! Essa boa notícia, a boa nova, não tem outro objetivo além de comunicar o Filho de Deus, Aquele tão esperado por todos e, como diz José Bortolini, essa boa nova “vai mexer com muita gente, e conosco também”.
A segunda parte deste pequeno texto apresenta a figura do Precursor. É assim que chamamos João. Ele é apresentado a partir de alguns textos do Antigo Testamento, quais sejam: Êxodo, Isaías e Malaquias. Três referências neste curtíssimo espaço para fazer menção à figura de João Batista como aquele que verdadeiramente prepara o caminho do “Forte”.
A ideia do deserto quer também ressaltar, em nosso sentir, um novo êxodo, um querer chegar à promessa do Messias, do Ungido, Daquele que é Forte, portanto, libertador. É a chamada de atenção para a saída das estruturas herodianas, símbolos de nova escravidão, como aquelas tantas que nos dias de hoje nos alcançam e que, como outrora, afundam o povo na miséria e fomenta os horrores destruindo a esperança, este horrores são as estradas tortuosas. João, de fato, leva o povo ao deserto e “atravessa o Jordão” com esse povo, para o outro lado da fé que entregará aqueles que esperam a mudança (ele aplaina o caminho), ao Noivo.
Ele, o mensageiro, o anjo bom, batiza com água, mas o Forte, batiza na força do Espírito de Deus. Ele, o precursor, pede a conversão, a mudança de caminho, a quebra dos vales do orgulho e das discrepâncias sociais e humanas.
A terceira parte apresenta na pessoa do próprio João Batista a figura do profeta totalmente tomado por esse compromisso único. O modo de se vestir associa o Batista a Elias, o grande profeta. Mas também denunciava a opulência de Herodes e de todos os poderosos que se vestiam ricamente enquanto, vários no meio do povo, caminhavam nus pelas ruas e estradas, cuja pobreza era tamanha que não possuíam recursos para suas vestes. Os gestos de João no que se refere ao modo de alimentar, aparentemente tão “selvagem”, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, implicam também em denúncia e se opõem ao luxo dos poderosos e à miséria a que o povo era submetido.
José Bortolini ainda nos apresenta que o gesto que está contido nesta dimensão do alimento é gritante e possui uma grande ironia, já que, “esse mesmo João irá perder a vida durante o banquete dos poderosos, e sua cabeça aparecerá em uma bandeja.
Na quarta parte são acentuadas as palavras de João. Ele não concorre com o Messias. Ele não é o ungido. Ele é aquele que se coloca em total submissão ao Forte, a Jesus, ao Cordeiro. Ele não é digno de desatar as sandálias do Noivo/Jesus. Ele espera e crê naquele que vem com o poder de Deus para resgatar o povo da miséria e da fome e restabelecer a ponte que nos liga ao Pai.
Se formos observar, o texto possui informações muito complexas, e cada uma delas traz uma motivação para que a comunidade se encante e enquadre-se na proposta de conversão apresentada pelo Batista. Essa proposta é boa nova, como, verdadeiramente um novo gênesis, uma esperança recriadora no Espírito Santo de Deus que age em Cristo, o Forte, e que nos resgata em seu amor. É preciso, para tanto, a passagem pelo deserto, ou seja, a conversão, a mudança no jeito se ser e de viver. É preciso se deixar transformar pela denúncia do profeta que não compactua com os desmandos políticos e destroem os pobres e humildes destruindo nossa vocação ao cuidado.
Pe. Jean Lúcio de Souza