Há, neste domingo, a retomada da figura de João Batista e o que ele significa na história da salvação. Este personagem, como pudemos perceber, torna-se de fundamental importância para compreendermos o que o tempo do Advento significa em nossas vidas e mais ainda, como o evento da encarnação do Verbo de Deus nos atinge a todos, homens e mulheres da comunidade dos fiéis e para além desta comunidade.
O recorte que o texto do Evangelho nos traz hoje, partindo do evangelista João, se divide em duas partes ou em duas ambiências que irão traduzir a intenção dos vv 6-8, isto é, o testemunho do profeta que levará a comunidade ao encontro com a Luz.
Não se iludam: embora o texto seja pequeno é intenso e rico em figuras e símbolos produzindo uma teologia que, neste curto espaço, não se pode e nem se tem a intensão de esgotar, entretanto, é preciso apresentar algumas pistas que nos ajudarão a pincelar nossas mentes segundo o propósito do tempo que estamos celebrando.
Os vv. 6-8 aparecem como um corte no prólogo joanino que está encerrado nos vv. 1-18. O prólogo possui uma intenção interessante que é a de apresentar a teologia contida em todo Evangelho da Comunidade do Discípulo Amado. O recorte dos versículos acima apresentam João Batista como a testemunha do Verbo de Deus, da vida que Ele é e a Luz que é nossa Luz, do Verbo que se faz carne. João é testemunha desse Verbo, ele é testemunha da Luz de tal maneira que já no ventre de Isabel ele se regozija com a presença do Verbo encarnado no ventre de Maria (Lc. 1,44). Já no ventre de Isabel João Batista começa a testemunhar Jesus.
É fato que os versículos 6-8 demonstram que seu envio está em ordem do testemunhar a Luz, apresentar essa Luz que vem também como o Cordeiro, ele vai testemunhar aquele “que existia antes de mim”, ou seja, o verdadeiro Deus, lá do princípio, Aquele mesmo Deus do gênesis, agora nesta nova hora, na nova criação. O testemunho de João deve levar a comunidade a crer, deve levar todos a crer e buscar essa Luz e dela também dar testemunho.
A segunda parte do texto de hoje que se concentra nos vv. 19-28 possui uma espécie de resposta ao que se aventou nos versículos 6-8, o testemunho.
O Evangelista inicia o trecho dizendo “este foi o testemunho de João”. O testemunho que aparece como uma resposta às dúvidas dos dirigentes dos judeus, que não acreditavam, porém, os sinais, as marcas deixadas por João colocaram em dúvidas as expectativas das autoridades (que não desejavam a conversão), mas manifestam sua preocupação com a possível chegada do Messias que iria “impor” uma nova ordem ao que já existia por lá.
João Batista diz de uma só vez não ser o Messias/ungido, não ser Elias (Ml 3,24-25) e nem o profeta (Dt 18,15.18). Ele se declara como a voz, aquela voz no deserto, na passagem (Betânia/Bethabara = lugar da passagem), na Páscoa, na possibilidade da outra margem que ele pode conduzir o povo convertido e esperançoso que vigia, aguarda a chegada da Luz, do Cordeiro, do Messias-noivo. Ele aplaina o caminho e aponta para o Cristo esperado.
Ele apenas purifica, na expectativa da conversão. Ele apenas leva a comunidade para o lugar onde haverá a mudança do caminho a nova perspectiva, o encontro com o Cristo Luz, o Cristo Cordeiro que tira, remove, extermina o pecado do mundo. A ablução joanina se dá com água, simplesmente.
O Batista testemunha “no meio de vós está alguém que não conheceis”. Não há o anúncio do batismo na Força do Espírito (que se dará nos versículos seguintes), mas há o testemunho de alguém esperado, que já chegou. O Messias desconhecido, mas que se dá e se dará a conhecer, dia a dia na vida dos fiéis no seio da comunidade reunida em Seu nome.
Quando João confessa não ser o Cristo Senhor, já aponta para os derradeiros versículos do Evangelho proclamado neste domingo: “está no meio de vós” e “eu não sou digno de desatar a correia (de sua) sandália”. Ele se declara não ser o Cristo, mas o que está no meio de vós, o mais forte que eu, o que existia antes de mim, este é o Cristo que, embora não o conheçam (ainda) Ele está aí e Dele e diante Dele apenas me inclino porque o profeta dá testemunho Dele. João é o mensageiro e se reconhece, portanto, menor do que Aquele que o enviou.
Colemos em nossos corações as verdades proclamadas neste terceiro domingo do Advento e nos deixemos tomar pela alegria do testemunho de João Batista que nos conclama a irmos ao encontro de Jesus, que está no meio de nós, e darmos testemunho do Luz, Verbo Eterno do Pai em nossas vidas.
Pe. Jean Lúcio de Souza