O tempo do advento é o tempo em que agentes da vida bíblica ganham bastante destaque dando o ritmo que esse ciclo litúrgico merece. Esses personagens ou agentes ganham ainda mais “visibilidade” nas semanas derradeiras ou conclusivas do referido ciclo.
Esses dias contamos com a presença se Zacarias e Isabel e todo cenário que deu vida à memorável história do casal sacerdotal. João Batista, que desde o ventre materno deu sinais de sua eleição por parte de Deus nosso Pai para cumprir a missão que o esperava. Nossa Senhora, divina Mãe de Deus e nossa, está presente também, aliás, o tempo do advento possui um perfume mariano muito intenso.
Hoje, no quarto domingo, encontramos o Arcanjo Gabriel que da mesma forma esteve, sob as ordens Eternas do Pai, diante de Zacarias no templo, agora está diante de Maria nossa Mãe.
A presença de São Gabriel não se dá por mera coincidência, pelo contrário, podemos dizer que providência Eterna tocou o encontro de hoje com as bênçãos de misericórdia reconciliando muitas pessoas.
Se formos analisar com carinho a sutileza de Lucas ficaremos encantados e agradecidos: no gênesis (3,1ss.) aparece um ser intruso no paraíso. Como chegou lá? Não sei, mas estava lá. Que ser seria esse? A serpente que “mascara um ser hostil a Deus e inimigo do ser humano”, ou seja, o diabo, como nós chamamos. A serpente, portanto, toma para si o cuidado de destruir o elo fecundo entre Deus e a humanidade. Mas de que forma? A serpente seduz a primeira mãe, Eva e entrega-lhe o orgulho, a desobediência e a morte de tal forma que o fruto que nascera de Eva já, por si, seria corrompido, pois o sim de Eva apartou-se da vontade de Deus para seguir uma vontade hostil ao querer amoroso de Deus nosso Pai.
A cena de hoje é inversamente proporcional à do gênesis: aparece um Arcanjo, não se trata de um intruso no pequeno oásis de Nazaré. Como chegou lá? Esse sabemos, Deus o enviou àquela pequenina cidade esquecida da Galileia. E ele foi! Que ser seria esse? Ele é o Arcanjo Gabriel (força de Deus). Ele não mascara a realidade, mas a expõe à Virgem com todos os detalhes possíveis e compreensíveis. Ele não é um inimigo de Deus, ele é o mensageiro de Deus. O Arcanjo toma para si o que é do Eterno Pai e conduz a mensagem que geraria a Ponte Forte que uniria novamente Deus e a humanidade. Mas de que forma? O Arcanjo, com seu Ave, não a seduz por si e para si, mas ele mesmo, comunicando a vontade de Deus a Maria nossa Mãe e que ela havia encontrado graça diante do Pai, rompe o silêncio sepulcral que o diabo havia gerado desde Adão e Eva e costura a fenda aberta desde o fruto proibido. Maria ao dizer sim entrega ao anjo a humildade, a obediência e a possibilidade da vida de tal forma que o Fruto Bendito que nasceria de Maria já, por si, Santo e Forte, resgataria a humanidade decaída. O sim de Maria ao Arcando Gabriel devolve à humidade um reto exemplo de cumprimento da vontade de Deus para seguir Sua vontade, abrindo-se ao querer amoroso de Deus nosso Pai.
Irmãos e irmãs, neste quarto e último domingo do advento estendo a cada um de vocês o desejo esperançoso de contemplarmos essa realidade angelical. Que o Arcanjo Gabriel interceda por todos nós e que a força de Deus que nos chegará neste Natal faça valer-nos a esperança e a vigília que nos nutriu durante esses dias.
Pe. Jean Lúcio de Souza