Ser amado é já entender que alguém nos ama integral e na mais profunda radicalidade. Mas existe um problema em ser amado. Qual seria? Saber ser amado é bom, deixar-se amar e amar o Amado é outra história.
Quando sabemos que somos amados há uma disposição do amante em desdobrar-se em zelo em favor do amado. Deus nos ama porque, como nos ensina São João, Deus é amor, e o Amor não faz distinções, Ele ama e pronto! Porém, amando-nos concede a todos, sem exceção, tudo que é bom, necessário e justo.
Se sabemos e nos sentimos amados por Deus podemos encontrar em nós o obstáculo do orgulho, do relativismo ou da apatia frente ao amor de Deus. O orgulho geraria a arrogância de sabermos ser amados e não nos “identificarmos” com o amor de Deus, por julgarmos, quem sabe, lá no interior que se a obrigação de Deus é amar não precisaria me esforçar em deixar-me amar e em corresponder a esse amor tão livre e gratuito.
Poderíamos, a partir do orgulho, relativizar o amor do Amado. Deus nosso Pai enviou seu Filho com a missão de comunicar o Amor e viver desta forma até as últimas consequências – tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (extremo) Jo 13,1 – e amando assim poderia o ser humano relativizar o amor, tornando-o apenas em um fato de homilia ou de reflexões nas igrejas, grupos e comunidades, que insistindo em falar do amor de Deus por nós, seria mais fácil virarmos as costas ao amor e seguir nossas vidas como se Ele fosse apenas um “lindo conto de fadas” com uma morte trágica no final.
A última fase é a mais completa apatia, quando sabemos que somos amados e deliberadamente optamos por não amar criando uma apatia social. Amar a Deus e crer nesse amor significa empenhar-se em amar como Ele nos ama – amai-vos uns aos outros como eu vos amei – isso é crer. Amar é crer. Crer é amar. Amar a Deus, crendo nesse amor, só se dá na realidade do amar os irmãos e irmãs na intensidade do amor de Cristo. Por isso, ao observarmos o mundo, percebemos tantos sinais de desamor. Esses sinais individuais ou coletivos, simbolizam nossa apatia frete ao amor de Deus, que o relativiza no orgulho que cria em nós a falsa ideia da autossuficiência.
João e sua comunidade representam o “discípulo amado”, que se deixaram amar e amaram no amor do Cristo, por isso, ao entrar no túmulo ele vê e crê, o Senhor ressuscitou porque seu amor não poderia ficar trancando em um túmulo, seu amor deve continuar transbordando mundo afora através da comunidade dos amados, a qual pertencemos.
Tenhamos coragem e amemo-nos uns aos outros para crermos amando e amando iremos crer.
Pe. Jean Lúcio de Souza