O ciclo do Natal, ou o período litúrgico do Natal, celebrado na alegria e na esperança que se tornou concreta em nossa carne e em nossa história, revigora nossa caminhada em Jesus Cristo, Verbo Eterno de Deus feito carne.
Adentrar na alegria deste mistério é não somente um compromisso de fé, mas também, um compromisso ético. E por que seria também um compromisso ético?
Para nós cristãos, sobremaneira católicos que somos, não se pode apenas dizer “ter fé”. Não é o mero dizer “conheço Jesus” que nos adequa ao compromisso de sua encarnação. Não basta citar versículos bíblicos e aplicá-los corretamente em conversas sociais e ou em sentenças perfeitas aos que não se “adequam” à fé que nos qualifica enquanto homens e mulheres cristãos.
São João nos ensina uma verdade complexa que, deveras, os homens e as mulheres possuem uma certa dificuldade em aderir a ela: somos convidados a guardar os mandamentos do Senhor e isso, não é somente procedimento de fé, mas é procedimento ético. A ética é um desprender-se de si para abraçar o zelo pelo outro.
Guardar, portanto, não significa trancar em algum lugar à chave e ali deixar permanecer, como um tesouro de pirata, isto é, tesouro roubado, onde sabe-se rico de um tesouro enterrado e perdido. Guardar significa “abastecer”. Estar abastecido ou nutrido desse mandamento faz de todos nós não somente homens e mulheres de fé, mas nos impulsiona a um comportamento ético que ilumina a vida humana pelo Amor do Deus encarnado em nossa história.
O mandamento é antiquíssimo, mas recebe uma adequação em Jesus Cristo: o amor aos irmãos e irmãs é luz que nos conduz à vida de fé, é porta que se abre para a experiência da ética do cuidado e do zelo.
O velho Simeão pode fechar seus olhos para essa vida, porque, adequando-se ao antigo preceito torna-se justo e, experimentando a piedade como dom de Deus, vai se encontrar no templo com o Amor, sumo bem, e deixar-se iluminar naquela reta final. A justiça o adequou não somente no plano da fé, mas o adequou na conduta ética e ele pode acolher em seus braços aquele Dom Altíssimo, como resposta a uma vida cujas ações de amor foram luz para si e para os seus.
João, de um lado nos fala sobre a adequação da fé à ética do cuidado. Amar os irmãos e irmãs é luz que nos ajusta à vontade de Deus. É compromisso de purificação que se dá a partir do universo do mandato do amor. Lucas, de outro lado, nos apresenta a conduta de quem vê o Amor e se deixa iluminar por ele, e pode “descansar” porque cumpriu a ética de amar e cuidar de um compromisso que nasce no acalento do Senhor em seus braços que se encontra em cada alma bendita e perdida neste mundo: os pequeninos do Reino.
Que essas experiências nos ensinem a desenvolver a coragem, Dom de Deus, para abraçarmos com vigor o compromisso ético com nossos irmãos e irmãs, compromisso que nasce da, e com a fé em Jesus Cristo.
Pe. Jean Lúcio de Souza