Na primeira leitura, tal como os patriarcas e os grandes chefes de Israel, Davi, ao ver aproximar a sua morte, reúne os seus filhos para lhes ditar as últimas vontades e pronunciar sobre eles a bênção final. Apesar dos seus erros e pecados, Davi “seguiu os caminhos do Senhor” e pôde juntar-se aos seus pais (v. 10). Ao dirigir-se a Salomão, seu filho, recorda-lhe que a sua permanência no trono fica condicionada à observância dos mandamentos e preceitos da Lei de Moisés. Esta recomendação serve também para nós, sobretudo diante de um mundo que pretende organizar-se como se Deus não existisse. Jamais esquecer do essencial: “Observa os preceitos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos” (v.3).
No Evangelho, Jesus envia os doze em missão, dando-lhes os seus próprios poderes (v. 7). Distinguimos aqui três momentos: no primeiro, Jesus dá orientações quanto ao estilo de vida dos missionários: eles não devem levar provisões, mas confiar na generosidade daqueles a quem se dirigem; no segundo, define o método de pregação: deter-se em casa de quem os acolhe, mas abandonar, sem lamentações, as daqueles que os não receberem; o terceiro momento é o da execução: os discípulos partem, pregam a conversão, expulsam demônios e realizam curas com sucesso (vv. 12s.). O ensinamento é claro: é preciso contentar-se com o essencial da vida, que se apoia na absoluta confiança no Senhor, como condição indispensável para estar ao serviço da Palavra. Isto tem a ver com cada um dos missionários, como você e eu, todos pela fé batismal, mas também com a própria Igreja que, não só deverá ser Igreja dos pobres, mas também Igreja pobre. Como é difícil dispensar coisas que, aos dias de hoje, nos parecem indispensáveis? Procuremos primeiro a Palavra do Senhor e todo o resto virá por acréscimo (Mt 6,33).
Sou atento aos preceitos do Senhor, observo os seus mandamentos? Busco a conversão diária? Dou testemunho de minha fé? O que mais me chama a atenção: as seguranças humanas ou o poder da Palavra de Deus?
Senhor, meu Deus, quando devo partir em missão, faço uma lista de muitas coisas a levar, porque as julgo necessárias. Hoje, Tu me confundes, apresentando-me uma lista do que não devo levar. Eu sei que não me queres desmazelado, mas apenas me ensinar que não devo preocupar-me com tantas coisas, por vezes supérfluas, para não esquecer da confiança em Ti. Eu Te peço, Senhor: afasta de mim a tentação de pôr a segurança da minha vida e o êxito da minha missão nas coisas ou nos meios a utilizar. Que eu me abra a Ti com um coração cada vez mais livre, desapegado e confiante. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago