Na primeira leitura, o autor sagrado apresenta a divisão do reino como um castigo pela apostasia de Salomão que construiu altares para os deuses pagãos e a eles ofereceu suas preces e sacrifícios. O profeta Aías anuncia simbolicamente o que está para acontecer ao “rasgar o manto” em doze pedaços. O seu gesto profético é uma advertência e uma denúncia motivada pelas injustiças sociais que Jeroboão herdou de seu pai Salomão. O profeta, e a sua ação, são sinal da presença de Deus e anúncio da sua intervenção na história do povo. Trata-se de uma intervenção salvífica, porque Deus não se diverte a rasgar “mantos novos”, mas é Aquele que faz novas todas as coisas.
No Evangelho, Jesus cura um surdo que falava com dificuldade. Ao ser tocado por Jesus em seus órgãos doentes com saliva, aquele homem fica curado. É o segundo milagre que Jesus faz em território pagão. O evangelista Marcos, ao registrar esse gesto de Jesus, aponta para a atividade missionária da primeira comunidade cristã e assinala a abertura dos pagãos à fé em Jesus Cristo. Algo hoje também tão caro a nós, investidos, à luz da fé batismal, na missão de curar e levar a todos a boa nova de Jesus. O assombro dos que presenciam os milagres de Jesus nos lembra o livro do Gênesis 1: “E Deus viu que tudo era bom” e também Isaías: “O mudo gritará de alegria” (Is 35, 6). Em Jesus se realizam as promessas de salvação. Não se trata, pois, de triunfalismo político-messiânico, mas de um reconhecimento da presença do Messias, da chegada do reino de Deus. Quantas vezes somos surdos-mudos! Peçamos a Jesus que, como àquele homem, também toque nossos ouvidos, dizendo “Efatá”, que quer dizer; “abre-te” (v.34). Assim se abra o nosso coração, nos religando a Ele, à sua Palavra, para que possamos nos abrir ao encontro com os outros, ao diálogo, às relações com todos.
Como tenho vivido a minha fé, com fidelidade ou adorando outros deuses, praticando a idolatria? Sou sinal de unidade ou de divisão na minha família, na Igreja e na sociedade? Faço-me de surdo-mudo aos apelos de Deus, ao chamado e à missão que me confia? Sou ardoroso no testemunho de minha fé, anunciando a Palavra de Deus e praticando a caridade cristã?
Senhor Jesus, que fizeste ouvir os surdos e falar os mudos, dá-me a graça de escutar o Pai e de saber falar com os irmãos e irmãs, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Repete sobre mim a tua palavra: “Efatá!”, para que o meu coração se abra à generosidade para contigo e para com os irmãos e irmãs. Ajuda-me, Senhor, a permanecer aberto à tua voz e a ti responder com generosidade, prontidão e entrega. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago