“Dias virão quando o noivo lhes será tirado... ”
Is 58,1-9; Sl 50; Mt 9,14-15.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Tome consciência de que você está acolhendo a presença de Deus. Coloque-se em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo.
• Leia, atentamente, os textos da sagrada Escritura, propostos para esse dia e, de modo especial, o santo Evangelho...entre nas cenas dos textos bíblicos; procure saborear a presença de Deus...
• Se recordar um cântico, pode cantá-lo, preparando melhor o seu coração para acolher a Palavra de Deus.
2. Meditando a Palavra de Deus:
- A quaresma, com as obras propostas por Jesus, assumidas com novo espírito, faz-se qual tempo favorável para empreender a longa viagem que nos há de levar à Jerusalém celeste.
• Somos chamados, nesse percurso, a semear o bem e não podemos nos cansar. O jejum, que liberta do apego às coisas, prepara o terreno; a oração, que alimenta nossa intimidade com Deus, rega o terreno de nossa vida e a caridade, que me faz olhar para o outro, aprendendo do próprio Deus, fecunda esse caminho.
- Os textos de hoje destacam o jejum e mostram a sua correlação com a oração e a caridade.
- O profeta Isaías alerta o povo para a falta de autenticidade com que vive (vv. 1-3a); ele proclama o verdadeiro jejum (vv. 3b-7) e indica as consequências positivas da ligação do jejum à prática da justiça (vv. 8-12).
- O povo tinha regressado do exílio cheio de entusiasmo e de esperança. Mas as dificuldades eram grandes. Deus parecia surdo e indiferente às súplicas e ao culto do seu povo.
• O profeta alerta para a prática de um jejum misturado com injustiças sociais, e condena-o.
• Ele ensina uma grande verdade: O culto deve estar unido à solidariedade com os pobres. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril, ou seja, não produz frutos.
- Já no Antigo Testamento, ele lembra que as manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os pobres e oprimidos.
• Afirma que o verdadeiro jejum e o verdadeiro culto consistem na caridade: O jejum tem sentido e valor quando se torna expressão de amor a Deus e ao próximo e o verdadeiro culto é relação com Deus, sem individualismo e falsidade.
- No Novo Testamento, os discípulos de Jesus são acusados de não Jejuarem. Jesus responde dando a entender que, com Ele, começaram os tempos messiânicos, o tempo das núpcias, o tempo escatológico anunciado pelos profetas, tempo de alegria durante o qual não se jejua, pois o Esposo está presente.
• Mas muitos, àquele tempo e hoje, não conseguem ver em Jesus o Messias esperado, e não reconhecem que o Reino de Deus é festa, é “pérola” pela qual se está disposto a deixar tudo com alegria.
• O jejum cristão, então, não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e quem o encontra, também encontra o irmão.
- O jejum começa a reentrar em nossa cultura atual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.
- A Igreja, como sempre, também recomenda o jejum, particularmente na Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações ou até cair no egoísmo e no orgulho.
• Por isso, a mesma Igreja nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade.
Talvez você nunca ouviu falar a esse respeito:
- Jejua-se porque Cristo, o Esposo, ainda não está totalmente presente em cada um de nós, nem na sociedade em que vivemos. O Esposo está pronto. Mas nós não estamos prontos. Ainda não nos deixamos invadir completamente pelo seu amor.
• Jejuamos para Lhe dar lugar em nós, para que possa ocupar toda a nossa existência. Jejuamos para nos unirmos à sua Paixão.
- Mas também jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carenciados.
• A memória da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um ato de misericórdia, no sentido da palavra do Senhor: “Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13). A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade com todos nós.
- O jejum que pratico tem me ajudado a encontrar e a estar com Jesus, a experenciar a vida nele e tem também me levado a ser mais caridoso, prestativo e misericordioso com meus irmãos e irmãs? Se não for assumido com humildade e em segredo, me desculpe o que vou lhe dizer: você está perdendo o seu tempo, pois Jesus disse que nesse caso “você já recebeu a recompensa”, ou seja, os “elogios” humanos...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Tendo bem presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitaremos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com os outros.
- Assumamos o jejum que agrada a Deus, que aponta para uma vida nova, n’Ele, com Ele e por Ele, o Cristo Senhor, e que se manifesta externamente em quem se mostra compassivo para com todos, a começar dos pobres, oprimidos, para que tenham vida e salvação
• A santificação do cristão não consiste, como acreditavam escribas e fariseus, em viver longe dos pecadores, mas em oferecer a salvação a todos. “Ide, fazei todos, discípulos meus!” (Mt 28,19-20).
- Peça a Deus, em oração espontânea, a graça de através do jejum libertar-se do apego às coisas, da escravidão dos instintos, da insensibilidade diante das necessidades dos irmãos e irmãs... enfim do mundanismo a que somos tentados a toda a hora, querendo, por vezes, anestesiar o seu coração.
• Pode acreditar, jejuar como a Igreja recomenda vai lhe fazer um grande bem...
4. Da contemplação para a ação:
- O tempo da Quaresma é propício para percorrermos os diversos graus da caridade evangélica:
• "Ama o próximo como a ti mesmo" (Mt 19, 19). É a regra de ouro que já foi proclamada no Antigo Testamento e que Jesus faz Sua: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti (Mt 7,12; Lc 6,11; Lv 19,18; Tob 4,15). Este é o primeiro grau da caridade.
• O segundo grau é: ama o próximo como amas a Jesus (Mt 25, 40; n. 28).
• O terceiro grau é amar o próximo como Jesus nos ama: "Este é o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei' (Jo 15,12).
• O quarto grau, o mais perfeito, é revelado por Jesus em forma de oração: pede que os seus discípulos se amem uns aos outros como as Três Pessoas da Santíssima Trindade se amam: "Não rogo só por estes, mas também por aqueles que, graças à sua palavra, vão acreditar em Mim, para que todos sejam um. Como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, sejam também eles uma só coisa, para que o mundo creia que Tu Me enviaste" (Jo 17,20-21).
- O fruto da caridade é Jesus presente no meio de nós: "Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles" (Mt 18, 20).
• Mas, não se iluda com as atrações do mundo, o preço da caridade é sempre a cruz, a negação de nós mesmos, a superação do nosso egoísmo: "Se alguém quiser vir após Mim, renegue a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-me" (Lc 9, 23).
Oração
Senhor Jesus, infunde em mim o teu Espírito, que ele seja o meu guia neste tempo da Quaresma.
Quero estar sempre unido a Ti.
Aumenta em mim o sentido esponsal da vida cristã.
Ensina-¬me a jejuar de tudo que me faz esquecer de Ti, me afasta da meditação da tua Palavra e me leva a procurar outros “refúgios”.
Que o meu jejum me abra também ao amor dos irmãos e irmãs e me faça percorrer o caminho da caridade
até amar como Tu amas, até que o meu amor pelos irmãos e irmãs seja reflexo daquele amor
que reina entre Ti, o Pai e o Espírito Santo.
Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago